Sou um desgraçado
desengraçado
uma árvore apoteótica
que alça a pata para mijar contra a parede dos sonhos
não vou falar do amor
e odeio a poesia
nem tão pouco irei escrever à mulher do rés-do-chão esquerdo
que finge enviar telegramas a Deus
quando este dorme profundamente nos alicerces da morte
a parvoíce dos pássaros com bilhete para a viagem até ao infinito
check-in sobre a copa das árvores
que de longe observam a loucura dos barcos
e dos cristais de iodo
lábios de sede perdidos nas páginas de um jornal
que embrulham as pernas do vagabundo
(Sou um desgraçado
desengraçado
uma árvore apoteótica
que alça a pata para mijar contra a parede dos sonhos)
com a dentadura de marfim
e os olhos de vidro
made ln-China
das noites os sargaços adormecidos
odeio as borboletas e as abelhas que enviam telegramas para Deus
e odeio a poesia
fingida de amor
nas janelas da noite
(odeio o rés-do-chão esquerdo).
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