O que me resta? E quase nada lamentava-se o francisco quando o espelho em gemidos de luz lhe perguntava,
- O que te resta francisco E ele agachado na sombra do pavimento respondia Quase nada,
Livros, cachimbos, quadros e papeis, muitos, saliva que fui guardando na algibeira da insónia e que de nada me servem, os livros, e se ao menos dessem para comer
- Imagino-me a comer Crime e Castigo, Imagino-me a comer A Insustentável Leveza do ser, Imagino-me a comer A Comissão das Lágrimas e porra, enquanto mastigo sinto a voz da cristina dentro da minha cabeça. Minto, enquanto mastigo sinto a voz da cabeça da cristina dentro da minha cabeça, e faço uma pausa,
O mar de Luanda, mas por muito que eu sonhe sei que é impossível comer o mar de Luanda, e por muito que eu sonhe sei que é impossível comer os machimbombos, as gaivotas, a baía, e por muito que eu sonhe
- A comissão das Lágrimas quase todinha mastigada e aos poucos a voz que vivia dentro da cabeça da cristina abraça-se ao capim e desaparece nos lábios do cacimbo,
A morte quando tudo dorme debaixo de um candeeiro a petróleo, a morte que sobeja do canto da boca ao terminar de mastigar
- Há dois meses que não como peixe,
A voz da cristina abraça-se ao capim e desaparece nos lábios do cacimbo,
O que me resta?
Livros, cachimbos, quadros e papeis, muitos, saliva que fui guardando na algibeira da insónia e que de nada me servem, os livros, e se ao menos dessem para comer, eu juro que os comia,
- Peixe, Deixei de comer peixe,
E por muito que eu sonhe
- O que me resta?
E por muito que eu sonhe nada me resta.
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