Aqui pertenço aos
arquitectos da insónia, cidades inteiras sem dormir, como eu, escondido dentro
de uma pétala de rosa,
Sozinho, o sono não vem,
sozinho o vinho do vizinho, só, esta pétala de rosa,
Que toca piano
Escreve prosa
E às vezes
É Ranhosa
Aqui pertenço e aqui me
sento perante vós, leitores e leitoras cá do burgo, e se amanhã é quarta-feira,
tudo indica que um arbusto vai morrer junto à calçada,
Onde também irei morrer,
quando tiver de morrer…
Só espero que Deus não se
esqueça de mim, e me deixe cá andar por muito tempo,
Não,
Não ia gostar
De me sentar e ver o mar
De erguer um braço e
pedir ajuda
Não me ausentar
Nem sentar
Numa Calçada,
Numa jaula de sémen, as
pedras balançam e são fabricadas três mil bolas de queijo a cada noite,
E aqui estou neste
ausentado medo de me ausentar e fugir e só parar quando a lua desse à luz
Uma linda menina,
Loira, esperta…
Sabe lá Deus o que é a
vida e o que é o sofrimento
Não sabe nada
Aqui pertenço, aqui me
sento e fumo o meu último cigarro da noite, talvez do dia, talvez o derradeiro
e último cigarro
Aqui me sento aqui
enlouqueço e, no entanto, temos lulas grelhadas e batatinha da nova
Cozida
As bebidas são por conta
da casa
As putas são assim
Acena-se-lhe com uma nota
e, caem todos os plátanos da avenida, alguns de tédio, outros devido à idade
Outros estão a ser
expulsos
Aqui estou, aqui me sento
e olho o mar, e pesco qualquer coisa para comer, mesmo que sejam algumas sobras
do poema, que ficam sempre algumas palavras, como as manchas de chocolate no
rosto das crianças
Aqui me estou sentado que
o verso começa a descambar, a descer a montanha e daqui a pouco me vou ou voi
Sei lá onde
Se aqui estou, se aqui me
sento, me alimento, aqui tenho o desejo sexual e aqui tenho os ventos que me irão
trazer o sono
Um dia
Que aqui esteja
E QUE ME VÁ OU QUE ME VOI
À MERDA
(Francisco – 16/04/2024)