quarta-feira, 17 de abril de 2024

o teu rosto

parte-se o espelho onde antes tinha o teu rosto, e hoje são mil pedacinhos, do teu rosto

néon sabor na boca da alvorada, mergulha o peixe na salsa, acorda o manjerico

e o espelho quebrado na frigideira, em pequenos loiros, na pele adocicada da tua mão

milhafre, profundamente só, sobre a paisagem

 

o espelho, agora, é uma janela, uma fresta no teu peito

de onde oiço o vento

onde escrevo as lágrimas floridas do amanhecer

sabendo que o teu rosto nunca será o espelho do teu rosto

 

sabendo que o teu rosto nunca mais o vou ver

como o via

no espelho que está no corredor

e parte-se o espelho onde antes havia uma lágrima, onde antes havia um sorriso e uma jangada de silêncio

e hoje

é um vazio na parede

e mais nada

 

 (Francisco – 17/04/2024)

Sem comentários:

Enviar um comentário