segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ser feliz

E se eu me deitasse homem
E acordasse pássaro
E se eu me deitasse miserável
E acordasse com algum dinheiro na algibeira…

Mas nem consigo acordar pássaro
Nem tão pouco cresce dinheiro na minha algibeira

E vão dizer
- Dinheiro não é felicidade
Ai que não é
Claro que o dinheiro é felicidade
Experimentem pedir fiado um café
Um maço de cigarros
Ou na mercearia…
E vão perceber a humilhação

E vão perceber a alegria
Daqueles que escutam e olham
Um feliz sem dinheiro
O que interessa eu ser feliz
Se sou um miserável
Se sou humilhado

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

O centro da eira

Não sei se está vento
No meu corpo encalhado
Se estou gordo
Ou magro

Não sei se deva continuar a escrever
Ou simplesmente me sentar
Ver a manhã a morrer
Nos braços do mar

Não sei o que são gaivotas
Ou poemas de amar
Sei o que eram almas mortas
Na Rússia do Czar

E tal como Gogol
Pego na minha escrita
E faço uma fogueira
E tudo desaparece no centro da eira

domingo, 8 de janeiro de 2012

As palavras

De que me servem as palavras
Se eu não como palavras
Não bebo palavras
Nem fumo palavras

De que me servem as malditas palavras
Que crescem na minha cabeça

Se eu não como palavras
Não bebo palavras
Nem fumo palavras

Malditas palavras que enlouquecem
A minha pobre cabeça
Se eu não como palavras
Não bebo palavras
Nem fumo palavras
De que me servem as palavras?

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha