quinta-feira, 26 de setembro de 2024

nos dias sem dias em dias de vento

 

Os dias de passagem

entre horas de paisagem

e malas de viagem

 

a fuga

dos dias de passagem

em corridas de loucura

 

(e malas de viagem)

 

os dias

horas

cansaços nocturnos

pássaros

a passagem dos dias

na paisagem das horas

em malas de viagem

e pássaros

 

(e malas de sofrimento)

 

os dias de passagem

entre horas de paisagem

e malas de viagem

os dias

horas

e malas

 

(e malas de viagem

e malas de sofrimento)

 

nos dias sem dias em dias de vento.

no silêncio das palavras

 

entre palavras

que a madrugada afaga

entre sonhos

que a noite semeia

nas planícies do teu corpo

 

entre pássaros

e rios

entre palavras

que alimentam o poema

nos versos da noite

 

palavras

palavras à janela

nos olhos de uma andorinha

desvairada

ninguém

ninguém à porta de entrada

para receber o silêncio das palavras

hoje

 

não sinto o cheiro do orvalho

nem oiço o mar

junto às rochas das palavras

 

hoje

ninguém

hoje ninguém à porta de entrada

no silêncio das palavras

Longe de ti

 

Longe de ti

o sabor da solidão

longe de ti

as palavras do coração

em brincadeiras de calçada

 

longe de ti

o meu olhar pedido na seara

do teu loiro cabelo de centeio

quando a tua mão

acorda a madrugada

 

longe de ti

o meu corpo em desespero

 

longe

longe de ti

o sabor da solidão

nos lábios do vento.

 

manhã de Outono, triste, teus olhos

de mar, imersos na tempestade

do meu olhar,

 

e se a chuva cai, e se o vento me levar,

e que me leve

para o teu cabelo,

 

manhã de Outono, neste sítio desengonçado, se me vou

eu vou,

e talvez não queira ir,

 

para esta triste, manhã de Outono.

Janela do medo

 

Meia dúzia de corações

encerrados num cubo de gelo

meia dúzia de palavras

parvas

à janela da tristeza

 

meia dúzia de madrugadas

suspensas no tecto da solidão

palavras e meia dúzia parvas

cansadas

parvas

 

meia dúzia de corações

apaixonadamente parvos

num cubo de gelo

meia dúzia de palavras

dúzia parvas

 

num rio com medo

corações apaixonados

tristemente sós

 

dum rio de medo

palavras e meia dúzia

dúzia parvas

 

palavras e meia dúzia parvas

cansadas

parvas

 

tristemente sós

 

Meia dúzia de corações

encerrados num cubo de gelo

meia dúzia de palavras

parvas

à janela da tristeza

 

à janela do medo.

A noite inventada

 

Inventada

a noite inventada

quando desce a madrugada

coitada

ela sem nada

nua e deitada

 

inventada

dentro do desejo das pétalas ancoradas

amada

até às entranhas das noites cansadas

 

os pouquíssimos pontos de luz pigmentando o mar

os barcos de fingir

não se cansam de brincar

não deixam de sorrir

 

ela

inventada

toda nua

coitada

bela

deitada

tua

no vidro à janela

 

(inventada

a noite inventada).

As espadas da dor

 

Desço às espadas da dor

sabendo que as palavras que me dizes

são mera ficção

são...

palavras,

 

sem amor.