sexta-feira, 9 de agosto de 2024

 

porque escrevo, se não escrever

fico doente, fico ainda mais só, do que o só

solitariamente

e o meu dia não é dia se não ler

porque estou só

só sem o saber

porque escrevo, se não escrever

fico ausente, das coisas belas da vida

peço a morte

e dão-me um pouco de papel

com poemas

poesia…

porque escrevo, se não escrever

não tenho dia

aquele dia que todos precisamos

aquele dia

que todos

amamos…

a morte como arte de beleza; todos somos belos,

quando morremos

 

hoje que sou apenas um pedaço de sombra

que não passo de uma promessa manhã

hoje que sou apenas um nome

sem morada

sem nada

e com fome

 

hoje que sou apenas uma flor despida na madrugada

que sou apenas uma palavra

hoje que sou apenas um fio de nylon suspenso no sorriso de uma estrela…

hoje que sou

apenas

um pedaço de insónia

 

O corpo extingue-se nas lágrimas do fogo

O corpo desaparece

E reaparece

Nos braços da madrugada,

O corpo finge

O corpo grita

Às estrelas de um doce olhar,

O corpo move-se

Contorce-se

E abraça-se ao vento

Quando o vento regressar

E novamente partir,

O corpo extingue-se

Dentro do teu corpo sempre que acorda a manhã,

O corpo escreve

Ao meu corpo

As palavras de um outro corpo,

Frágil

Doce

Meigo

Deste corpo que morre

Neste corpo quando se deita…

A triste noite ensonada.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

 

No olhar

Dos teus lábios

Há um pedacinho de mel em poesia

Que se esconde

Que grita…

A cada novo dia.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

 

éramos agosto das noites sem dormir, éramos o poema, a cada estrela olhada,

éramos o beijo, e éramos a madrugada.

éramos o desejo, na noite envenenada.

éramos a fome,

de um livro,

sem nome.

éramos o cigarro, que olhava o rio.

éramos a palavra

e às vezes,

éramos o frio.

éramos agosto das noites sem dormir, éramos a alegria e o abraço,

e muitas vezes,

éramos o acordar do dia.

éramos agosto das noites sem dormir,

e hoje somos um outro agosto,

das noites sem dormir.

 

se os teus lábios, meu amor, escrevessem nos meus lábios, qualquer coisa de jeito,

nem que fosse apenas,

uma palavra,

um som,

um uivo.

 

se os teus olhos, meu amor, abraçassem os meus olhos,

e

desenhassem no meu peito

a galáxia,

e lançassem contra mim,

o sol.

 

e a lua.

e a paixão.

 

se as tuas mãos, meu amor, afagassem o meu cabelo, como faz o vento

ao corpo da seara…

 

se o teu corpo, ao menos, fosse um pedacinho da minha insónia…

 

do sorriso de uma criança, na flor teus olhos, um pedaço de manhã dissipa-se no centro curvilíneo da tua mão

e pela luz de um silêncio, oiço os desejos do teu cabelo,

voando abraçado ao sorriso de uma criança.