sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

A minha mão

 

Vem daí, dá-me a tua mão

Vamos caminhar estrada fora

Subimos a montanha

Sentamo-nos junto à nascente;

Dá-me a tua mão e não tenhas medo de sonhar.

 

Ler-te-ei todos os meus poemas

Dar-te-ei a minha mão.

 

19/01/2024

 

E se eu morrer

Quem ficará com as minhas palavras

Quem continuará a regar as minhas plantas

Quem ficará com os meus livros,

Se eu morrer

Não tenho ninguém a quem deixar as minhas palavras nem os meus livros.

 

19/01/2024

Sonho

 

Esta noite sonhei,

Que abraçava o teu cabelo,

Claro que eu sonhava,

Claro que sei,

Que nunca abraçarei o teu cabelo.

 

Esta noite sonhei,

Que acariciava o teu cabelo,

Mas o teu cabelo eu não afagava,

Como poderei eu afagar o teu cabelo,

Se o teu cabelo é tão grande como a noite.

 

Ai, como eu sonhava.

Esta noite sonhei,

Que beijava o teu cabelo,

E como poderia eu beijar o teu cabelo

Se eu sonhava…

 

19/01/2024

De pensar em ti

 

Recomecei,

Comecei no Botto,

O António,

É muito corpo,

Corpos entrelaçados,

Corpos amados

Lambidos

E beijados;

O meu corpo é um pedaço de pedra. (dizem-me)

 

O Mário,

O Cesariny,

É uma delícia,

Um primor,

Tal como o era o senhor Álvaro de Campos.

No entanto,

Parece-me um pouco louco,

Como eu;

Vive noutro lugar onde procura o antigo lugar.

 

Que se fodam.

 

Depois,

Vem o Eugénio,

De Andrade,

Vem o sino da igreja, vem o vento,

Vêm as flores, vêm as pedras e vêm-se os pássaros sobre as passaras.

No entanto,

Tinha gatos,

Gostava de gatos;

Eu detesto gatos.

 

O David,

Mourão-Ferreira,

Foram quatro dias,

Quatro dias passaram,

E gostei muito dele,

Muito.

 

Agora vem a Sofia,

A eterna de Mello Breyner Andresen,

E espero ficar com ela muitos dias, muitas horas…

Muitos anos.

 

Mas eu gosto é de conversar com o AL Berto,

Gosto de conversar com o Pacheco,

Gosto,

Gosto também de pensar em ti.

 

 

19/01/2024

Flor cardada

 

Minha sílaba atónita

Que habita os rios sem nome,

Meu pedacinho de pergaminho,

Minha maré,

Das tardes junto ao mar.

 

Meu menino,

Fio de sémen prisioneiro do sincelo,

Montanha da fome

Onde se esconde o vulcão.

Minha estrela em papel,

 

Minha colmeia meu mel.

Minha pequenina sílaba,

Minha flor cardada,

Quanto te olho morro,

E quando morro, levo o teu olhar.

 

19/01/2024

Poema em tua mão

 

Não é nuvem nem pedra

Não é razão

Nem coração

Não é montanha nem serra

 

Nem pássaro ou árvore despida

Não é neve nem geada

É a manhã cansada

É a manhã perdida

 

Não é nuvem nem pedra nem o mar

É a estrela que tens no olhar

Não é nuvem nem pedra nem seara do amanhecer

 

Não é a solidão

Nem é o poema na tua mão

Mas é a vontade de vencer.

 

 

19/01/2024

Os teus olhos

 

Podiam ser estrelas,

Os teus olhos,

Podiam ser flores,

Os teus olhos,

Podiam ser a madrugada,

Os teus olhos…

 

19/01/2024