Corre um rio de seda nos teus seios
Alicerça-se à tua boca
A manhã que acabou de acordar
Corre um rio de espuma no teu cabelo
Corre um fio de medo
Na tua mão ausente
No teu segredo
Corre o mar no teu olhar
Corre um rio
Corre o verbo amar
Corre um pequeno fio
Enquanto há luar.
17/01/2024
Podia ser pedra-pomes
Podia ser um rio
Podia ter vários nomes
Podia ser um fio
Ou uma montanha abandonada
Podia ser o mar
Ou até a madrugada
Podia ser sorte ou azar
Podia ser equação
Podia ser abraçar
E poisar o olhar no coração
Tanta coisa que podia ser
Ser apenas palavra
Ser o poeta lunático
Podia ser não sendo
Podia ser juízo problemático
Podia ser fazendo
O poema do amanhecer
Podia ser o vento
Claro que podia ser
Podia ser o pensamento
Na fome de comer.
17/01/2024
É esse jeito de menina
Que brinca no silêncio mar
Que me fascina
E me faz sonhar.
É esse jeito de menina
De menina mimada
Do sol que me ilumina
Depois de adormecer a alvorada.
É esse jeito de menina
Que tem no cabelo uma flor
E na mão traz uma estrela pequenina,
É esse jeito de menina
De menina em dor
Na dor da neblina.
17/01/2024
Tenho medo de te perder.
No entanto
Faço-te sofrer
E não entendo porque ainda não te perdi,
Será que não te vou perder até morrer?
Tenho medo de te perder
E às vezes esqueço
O quão importante és,
E às vezes esqueço
Que não te posso perder.
Tenho medo de te perder
E enquanto só vejo o sol durante o dia,
A ti,
Vejo-te a toda a hora,
Sempre com medo de te perder.
16/01/2024
Convém dizer
Que às vezes o sol é um esconderijo de
sonhos
Que às vezes o sol é uma montanha de
algodão doce
Convém dizer
Que às vezes o sol é a alegria da noite
Que às vezes o sol
O nosso sol
É um pedacinho de dor
Nas mãos de uma mãe.
Convém dizer
Que às vezes o sol também sofre
Também chora
Porque o sol
Também é flor.
Convém dizer
Que às vezes o sol é o correr de uma
criança
Pela seara adentro,
Convém dizer
Que às vezes o sol
É a lágrima de uma mulher
E o sorriso de tanta gente.
16/01/2024
Sentava-me nas tuas mãos líquidas
Veleiro sem madrugada
Eu pensava
E fumava,
Escrevia nos teus braços,
Ainda não te escrevia,
Meu amor,
Porque ainda não te conhecia,
Mas escrevia…
Para este Tejo
Que me via.
Sentava-me nas tuas mãos líquidas
E beijava os teus lábios de pôr-do-sol
Ao lado do Padrão dos Descobrimentos,
E olhava-te
Meu rio,
Meu Tejo
E meus ventos.
16/01/2024
David
Leonardo
Ou Francisco
Maria
Teresa
Ou Arminda
Um é poeta
O David Mourão-Ferreira
O Leonardo
Não conheço
O Francisco
Um coitado
A Maria é a mãe de Jesus
A Teresa nunca a vi
E a Arminda
É a minha mãe
15/01/2024
