Enquanto eu te sonho
Morre uma estrela
Vai um foguetão à lua
Aparece um novo rio
Que às vezes não corre para o mar,
Enquanto eu te sonho
A noite é escura
Todas as estrelas do céu
Morreram
De tanto eu te sonhar.
10/01/2024
Enquanto eu te sonho
Morre uma estrela
Vai um foguetão à lua
Aparece um novo rio
Que às vezes não corre para o mar,
Enquanto eu te sonho
A noite é escura
Todas as estrelas do céu
Morreram
De tanto eu te sonhar.
10/01/2024
Cada vez mais escuro
Este labirinto de viver
Neste silêncio de espasmos
Acorda o dia pensando ser a noite
Quando a noite não é o dia
Nem o poema.
Cada vez mais escuro
O dia
Cada vez mais profundo
O labirinto
Cada vez mais distante
A poesia.
Cada vez mais escuro
Este labirinto de pensar
Cada vez mais nada
Cada vez mais ensanguentada
A madrugada
E o mar.
10/01/2024
Já tenho tabaco
Não posso afirmar que não
tenho casa, porque já tenho casa
E tenho o resto do dia
E tenho a poesia do Eugénio
para ler
Tenho fogueira
Tenho pão
Tenho queijo
Para me esquecer
Que sou poeta
Meu querido
Tão longe estás de mim
Tu e os teus navios
A olharem a cidade
E a cidade
Indiferente para vocês
E a cidade
Sempre foi indiferente para
mim
Meu querido mar
Aquele mar que deixei
sobre as pedras
E sobre o olhar
Da minha infância
Quando o destino…
Ainda se apelidava de
destino
Quando o destino hoje
Já não é um menino
O destino hoje é um homem
enforcado na ausência
Quando a noite arrasta
para os seus braços
Todo o tipo de sucata
Todo o tipo de homens
Como eu
Como tu
Meu querido mar
Como tu
Assobia o rapaz na ida
para a escola
No regresso
Pede esmola
E um pedacinho de
paciência
Para continuar vivo
Vivendo dentro de um triciclo
de sono
Ante que a lua desça
E roube o triciclo
E roube o sono
Felizmente já tenho
tabaco
Já tenho casa
Poesia
E o resto do dia
Felizmente
Meu querido mar…
Felizmente que tenho o
Eugénio para ler
E mãos
Meu querido
E mãos para escrever.
09/01/2024
Meu
querido,
Mais
um dia, mais um dia igual ao de ontem, que por sua vez vai ser igual ao de
hoje,
Um
amanhã previsível, constante, correndo em linha recta até, quem sabe, ao
infinito.
Acreditas
no infinito, meu querido?
Dizem
que é tão grande…!
E
que tem tanto poder como esta fogueira, que arde à minha frente, e que às vezes
a olho, e penso
Penso
no suicídio. No meu não, isso nunca.
Penso
naqueles que o fazem, porque o fazem, o que os leva a deixar tudo, tudo, a
troco de quê?
Penso
na pistola que dispara, e penso o que pensará a pistola, antes de disparar e
depois de toda a massa encefálica alimentar a parede da cozinha. Penso muito, nisso,
meu querido.
E
que coragem, estes gajos têm…
Mais
um dia, acabou o tabaco, não tenho casa, e apenas sou guardião de
aproximadamente 7 a 8 mil livros; tenho livros desde a engenharia até à poesia
Poesia,
poesia, poesia
Uma
casa sem poesia, é uma tristeza.
É
como uma mulher sem sorriso.
Daqui
a pouco é noite, e aí sim, é quando eu me pergunto qual é a minha finalidade,
aqui na terra.
O
que vim cá fazer?
Escrever
parvoíces?
Desenhar
porcarias?
Se
a única finalidade do homem é continuar a espécie e superar problemas a cada
dia que passa. Felizmente só fui atingido pela segunda,
E
depois,
Contar
o número de rotações em volta de um eixo imaginário.
09/01/2024
Esse gladíolo dos teus lábios margarida
Esse rio que brota em tua boca em luar
Esse tudo quando a partida
É uma viagem para o mar.
Essa minha impaciência de viver
Quando a noite traz a madrugada
Esse gladíolo dos teus lábios em sofrer
De sofrer sem mais nada.
Desse rio que brotou
Em tua boca luar
Foi o gladíolo que acordou
Dos teus lábios margarida
Esse rio corre para o mar
E o mar não será mais a despedida.
09/01/2024
Em teu cabelo flor
Ser jardim suspenso
Ser dia ser dor
Enquanto penso
Em teu cabelo madrugada
Minha noite em despedida
É tão linda a calçada
Depois da corrida
Em teu cabelo poesia
Que traz a paz à sanzala
Não faz mal em ser dia
Não faz mal ser alvorada
Porque no teu cabelo há
uma bala
Que rompe a neblina
cerrada
08/01/2024
Conheci um navio
Que escondia na mão
O sargaço fio
Que escondia no peito a
solidão
E as lágrimas do
amanhecer.
Conheci um navio de
passear
Que me dava alegria e
saber
Enquanto eu dormia sobre
o mar.
Conheci um navio
Um navio não de brincar
Que quando o mar estava
bravio
Me abraçava na madrugada.
Era um navio de encantar
Era o Infante Dom
Henrique… hoje não é nada.
(em Setembro de 1971, fiz
a viagem Luanda – Lisboa no Infante Dom Henrique)
08/01/2024