A cidade somos nós, eu e
tu. A cidade fervilha neste caldeirão de lâmpadas de néon, as ruas da nossa
cidade, as ruas que, tu e eu, temos em todo o nosso corpo
A cidade vomita sílabas e
amendoeiras em flor, os pássaros beijam-se, e a Princesa brinca sobre um fino
manto de geada
A nossa cidade é esta,
Mergulhada no Inverno
fictício de Luanda, sempre na ânsia do regresso da lâmpada mágica,
E dos três desejos,
Apenas um desejo me
interessa,
Não morrer de velho.
Erguer-me perante ti,
pedir-te perdão pelos erros que não cometi, e esta cidade é assim
Cáfila madrugada
Erguer-me de peito feito
para esta cidade,
Gritar para esta cidade, vociferar
Que somos nós.
Nós somos esta cidade.
Cidade de dúbia montanha
floreada,
Esta cidade que somos
nós, eu e tu, perfeitos caçadores de livros, verdadeiros pigmentados silêncios
antes que a noite se levante do chão,
E grite, ela também,
Como grita esta cidade.
A cidade somos nós,
podíamos não o ser, mas esta cidade mendiga nas ruas que alguns apelidam de
veias, são ruas onde caminham transeuntes embriagados de sangue
Um disparo na alvorada;
Possível suicídio.
Miolos na parede.
Cristo pendurado junto à
janela, sorri
Eu e tu,
Somos esta cidade de beijos,
somos esta cidade desemparada pelo vento
Flutuando sobre a água
Debaixo da mão esquerda
do pedinte
Cidade, eu e tu, somos
nós,
Ventoinha sobre a sombra
de unar
Nesta sombra de cidade.
A nossa cidade.
03/01/2024