quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Resto de cidade

 

A cidade somos nós, eu e tu. A cidade fervilha neste caldeirão de lâmpadas de néon, as ruas da nossa cidade, as ruas que, tu e eu, temos em todo o nosso corpo

A cidade vomita sílabas e amendoeiras em flor, os pássaros beijam-se, e a Princesa brinca sobre um fino manto de geada

 

A nossa cidade é esta,

Mergulhada no Inverno fictício de Luanda, sempre na ânsia do regresso da lâmpada mágica,

E dos três desejos,

Apenas um desejo me interessa,

 

Não morrer de velho.

 

Erguer-me perante ti, pedir-te perdão pelos erros que não cometi, e esta cidade é assim

Cáfila madrugada

Erguer-me de peito feito para esta cidade,

Gritar para esta cidade, vociferar

Que somos nós.

 

Nós somos esta cidade.

Cidade de dúbia montanha floreada,

Esta cidade que somos nós, eu e tu, perfeitos caçadores de livros, verdadeiros pigmentados silêncios antes que a noite se levante do chão,

E grite, ela também,

Como grita esta cidade.

 

A cidade somos nós, podíamos não o ser, mas esta cidade mendiga nas ruas que alguns apelidam de veias, são ruas onde caminham transeuntes embriagados de sangue

Um disparo na alvorada;

Possível suicídio.

Miolos na parede.

Cristo pendurado junto à janela, sorri

Eu e tu,

Somos esta cidade de beijos, somos esta cidade desemparada pelo vento

Flutuando sobre a água

Debaixo da mão esquerda do pedinte

Cidade, eu e tu, somos nós,

Ventoinha sobre a sombra de unar

Nesta sombra de cidade.

 

A nossa cidade.

 

 

03/01/2024

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