terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O poeta em Paris

 

Levita na gravidade de sentir

O poeta dependurado quando um fio de silêncio corta a cabeça do sono,

O sono faz bem, a insónia certamente fará melhor,

Comparado com o dia,

Que é tédio, que é drageia para o apetite…

E quase nada come, o poeta,

Quase,

Porque o poeta em Paris,

Foi feliz,

Quando nos seus olhos se alicerçou o sorriso do Louvre.

 

Ai o Louvre.

Ai a Torre Eiffel,

O Arco…

Trouxe livros de lá, caderninhos onde agora escreve palavrinhas, números, coisas de encantar as crianças, contas de merceeiro,

E o poeta foi tão feliz, em Paris,

Tão feliz como o é a cidade Luz…

Paris à noite, enquanto um autocarro descapotável se escondia em cada rua de desejo…

De pertencer à cidade.

 

Em cada esquina, um artista, um poeta, um músico…

Este poeta,

Em cada esquina uma palavra proibida, uma palavra disparada contra o Sena, e o cheiro do Sena, meu Deus…

E os barcos, meu Deus; e as pontes e os alimentos da alma.

E a lua estava tão linda.

 

Certamente irá um dia, o poeta, novamente a Paris…

Certamente,

Um dia,

Dia.

 

 

02/01/2024


Compreensão

 

Talvez Cesariny me compreenda

Talvez

Talvez Proust me compreenda

Ou Goethe

Talvez

Talvez o nada seja tudo

E o tudo

Nunca seja nada.

 

Talvez estes versos

Me compreendam

Talvez

Talvez o Senhor Álvaro de Campos

Me compreenda

Talvez

Talvez

Que seja

Talvez o revólver do Senhor Mário de Sá-Carneiro

Me compreenda

Talvez

Alguma vez...

 

02/01/2024

Paixão de viver

 

O dia está triste

Eu

Estou triste

Porque

O dia acordou triste

 

Porque são tristes

Os dias?

 

Porquê tanta alegria

Quando um poema

Morre

Na

Minha

Mão?

 

E finco tão feliz

Olhar a morte do poema…

 

O dia é triste

Eu quase sempre

Tal como o dia

Sou triste

E só fico contente

 

Quando me morre um poema,

 

E eu venere-o como se fosse a paixão de viver,

Que não tenho,

Que nem sei se existe.

 

02/01/2024

Espelho

 

Vejo no espelho

O espectro mecânico do meu olhar, vejo no espelho, a tristeza do meu olhar,

Quando o meu olhar,

Morre dentro deste quadrado de solidão,

 

Vejo no espelho,

O sono, a insónia vestida de sono,

E vejo também neste espelho,

As mãos da madrugada,

Que apertam o meu pescoço,

E que me sufocam antes de acordar o dia.

 

 

02/01/2024

Poema vencido

 

Nem o suicídio sossega o poeta,

Em viver e sofrer

E sofrer em viver,

Esperando a morte,

Esperando o acordar

Do poema vencido.

 

02/01/2024

Olhos cinzentos

 

Hoje os teus olhos estão cinzentos

Advinham chuva

Ou simplesmente choraste durante a noite

Talvez seja a minha ausência…

Talvez se deva à minha rebeldia

De pensar e escrever

Esta condição maldita

Em ser poeta

E vestir-me de poesia.

 

 

02/01/2024

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Luiz Pacheco

 

Pedra

Pau

Padre

Pilau

 

Pedra padre pilau que arde

Arte

Padre

Cristo ao léu

Cristo mendigo

Pedra

Pau

Pedra

Pilau

 

Luiz Pacheco

Pedra

És um pilau de pedra

Padre

Serra

Corta os dedos

Levanta a voz

Pedra

Pau

Padre

Pilau

 

Masturba-te

Pilau de pedra

Padre

Pau

 

Voz

Canção

Revolta

Volta a mim

Pedra

Pau

Padre

Pilau

 

Pilau de pedra

Pedra pau pilau de padre

Corrente sanguina

Sangue

Leite em pó

Pedra

E pau

E pilau

De pedra

De pedra padre Lima

 

Satélite

Foguetão animal

Canino

Felino detesto

Pedra

Pau

Pilau de pedra

De pedra o pilau

Do padre

 

Uísque

Que seja o padre

Que seja o pilau

Que seja a pedra

Da pedra

Pilau

Do padre pedra

Do padre pilau

 

(pedra

Pau

Padre

Pilau)

 

Pilar de pedra

Pau de pilau

Pedra

Pedro

Francisco

Luiz Pacheco

De pedra

Pilau

Teso

Como eu

Padra

Pilau

De pedra

De pedra como eu.

 

 

01/01/2024