Preciso de um prato
Para não comer no chão
Preciso de uma mão
Para segurar o talher
Preciso de uma mulher
Para me beijar
Para me abraçar
Preciso de um prato
Para não comer no chão
Preciso de uma mão
Para segurar o pão
Preciso de um prato
Para não comer no chão
Preciso de uma mão
Para segurar no prato
Preciso de um chão
Para pegar no meu coração
30/12/2023
Cubata
Chata
Chapa
Lata
Cubata
Cubata quando emagrece
Cubata quando esquece
O fogo que aquece
Cubata ao que parece
O minguar
A gata a gritar
O capim a chorar
Ao longe a Mutamba a
abarrotar
A cubata a arder
Ela a foder
Foder as cinzas sem o
querer
Querendo muito o foder
Cubata
Malata
Acta
Chapa
Chata e lata
Cubata oiriceira
Cubata à sexta-feira
Cubata junto à feira
Cubata merendeira
Cubata moliceira
Cubata foguear
Cubata ou mar
Mar cubata chanfrar
Cornear
A comida do alguidar.
30/12/2023
Bebo o teu corpo
Bebo o teu corpo enquanto
tenho tempo
Tempo para o beber
E tempo para me sentar e
o beber.
Bebo o teu corpo
A noite é nossa
Os teus seios não se
perdem nas minhas mãos
Mas as minhas mãos
perdem-se nos teus seios
Além de que a noite é
nossa
Bebo o teu corpo
Esfinge da razão
Palavra que mergulha na
água salgada do silêncio
Parecendo às vezes o infortúnio
De uma outra coisa
qualquer
Que a própria coisa ou a vida.
Bebo o teu corpo
Sei que a noite me vai
trazer o mar dos teus olhos
E o mel dos teus lábios
E sei lá mais o que a
noite me vai trazer…
Depois de beber o teu
corpo
Enquanto tenho tempo de o
beber.
30/12/2023
É sempre Dezembro nos
teus olhos
Há sempre chocolate nos
teus lábios
Há sempre uma lareira no
teu peito
Um pedaço de cinza
Na luz das tuas mãos,
É sempre Dezembro nos
teus olhos
Em Santa Apolónia neste
momento é noite
Do outro lado da rua
Dia claro
Sem nuvens
E alinhado com o Alfa
Pendular,
É sempre Dezembro nos
teus olhos
Talvez Janeiro nos meus
ombros
As vinhas estão lindas
As videiras nuas
É sempre lua
Na tua boca
Quando Dezembro
São os teus olhos magos
nesta madeira assada.
30/12/2023
Estranhar o estranho
momento
Momentaneamente ausente
No teu ciúme à minha
poesia
Quando apenas o poeta
Ou o nascer do dia
Te podem abraçar
Te podem beijar
Cientemente na ausência
em vaguear ciúme
Tem olhos
Tem lume
Estranhar
Que tem ciúme
Da minha degradante
poesia
Sentia
O estranhamente ciúme
Dos meus poemas
Da minha poesia
Emborcar neste
esconderijo de ideias
As palmas e as plumas
Quando o corpo se verga
E o teu ciúme
Te corre nas veias
30/12/2023
Minha Nossa Senhora dos Paralelos
(não sei se existe)
Rogai por mim
Afasta da minha sombra
Todos os males satânicos
E todas as constipações
Minha Santa
Minha Senhora Nossa
Dos Paralelos
Protege o meu corpo das correntes de ar
Da azia ao acordar
E das tonturas do amanhecer
E nunca esquecer
Santa Nossa dos Paralelos
Traz a mim o fumo dos vulcões
E leva as tristezas
E já agora… deixa-me alguns tostões
E miudezas
E coloridos balões
29/12/2023
