Em criança tinha uns
calções
Apressadamente
Vendi-os por uns míseros tostões
E um prato de rojões
Apressadamente
Vendi-os sem perceber
porque estes calções
Tinham gravado o meu nome
O poeta apátrida
Que quando tem fome
Come poesia
E o que não devia
E não sabia e ficou a
saber
Que o seu nome
Numa agonia
De escrever
Pertencia às marés
E não pertencia
O poeta dos calções
Os calções do poeta
Não sabendo o poeta
porque as pedras amam
E choram
E cagam
Como todo o homem
Como toda a mulher
Não sabia
E ficou a saber
Que dentro dos seus
calções
Existiam quatro moedas
pretas
Uma colher
E uma lâmpada-farol que
ele utilizava
Quando caminhava
Dentro do mar
Em criança tinha uns
calções
E os meus calções tinham
um nome
Tinham a minha idade
Estampada no estômago
Às vezes tinham fome
E outras vezes tinham um
nome
Em poeta tinha uns
calções
Em criança palavra
No amar desejo prometido
Sem saliva
Sem mar
Em poiso sofrido
Em maré de Margarido
Em poeta tinha uns
calções
Tinha uns calções com
palavras
Com números medicamente
apaixonados
A saudade
Tem uns calções
No poeta das madrugadas
Quando tudo está a arder
E os calções do poeta com
calções
São estes braços cansados
06/12/2023