Procuro nos teus olhos
Nada procurar
Porque o que procuro
Não o consigo encontrar
Porque o que procuro
Não está no teu olhar.
04/12/2023
Ninguém quer poetas
E no entanto
Se todos os poemas se
revoltassem
O homem fugia com o
rabinho entre as pernas
E escondia-se num poço de
merda
Não acreditam
Imaginem A Tabacaria em revolta
E o senhor Álvaro de
Campos a comer chocolates
Imaginem Voz Numa Pedra
Do senhor Cesariny
Imaginem Horto de
Incêndio
Do senhor AL Berto
Imaginem o caralho
Vocês não caralham nada
Nem imaginam nada
Que podem vossemecês
imaginar
Que as pedras amam de
igual como o homem ama as pedras
E se amam entre elas
Que os meninos fazem cocó
Muito cocó
E no entanto
São tão queridos
Quando não têm cocó
Imaginem
Imaginem porque estou
aqui sentado
Quando descintado podia
andar por aí
À procura de marmorites
E outras pedras de adorno
E outras pedras e afins
Mas vossemecês não
conseguem imaginar
Imaginar um poeta
Sentado na sanita
A cagar
Imaginem duas pedras a
escrever o amor
Na pele uma da outra
Elas amam-se
E odeiam-se
Mas desejam-se as duas
Quando o poeta abra a
janela
Vê o mar
E mija…
Fingindo que está a fumar
E elas
Fingem que fingem o
orgasmo da manhã
Quando o orvalho da manhã
Também finge
Finge que lê poesia no
café
Imaginem um louco poeta
Um pequeno poeta
De abas largas
Para tapar o sol da manhã
E ofuscar o teu olhar
Mas vossemecês não conseguem
imaginar
Vossemecês nem sabem o
nome deste mar
Enterra
O do clitóris
Cleópatra e seu amante
Se o tinha
Se não o tinha
Tivesse-o
Mas vossemecês não sabem
Não sabem o que é ser
poeta
Poeta mendigo
Ser poeta ser louco e ser
mendigo
Desde que acorda
Até ao pôr-do-sol
E o resto do dia
Que se foda
Imaginem a lareira a ejacular
palavras
Em vez de poemas
Em vez de lume
Do ciúme
Que há quem o tenha
Que Deus o acompanhe
Depois de nascer o sol
Imaginem o poeta
O triste do poeta
A vender poemas á porta
do café
A imaginar cigarros
À porta do café
A engraxar sapatos
À porta do café
Claro que vossemecês não
conseguem imaginar
Tão pouco o pão do diabo
Tão pouco
Imaginar
A paixão do poeta
Sem-abrigo e mendigo e
filho da puta
Para uns
Para os outros
Nada
Imaginar
Imaginem
Imaginem duas loucas
Sobre os lençóis do
desejo
Desenhando passarinhos na
alcofa do prazer
Claro
Claro que vossemecês não conseguem
imaginar
Tão pouco acreditar
Que o poeta
É louco
Que o poeta é miserável
Que o poeta
Ama
Fode
E come
Torradas ao pequeno-almoço
Conseguem
Conseguem vossemecês
Imaginar?
03/11/2023
Já ninguém gosta de
poesia
Já ninguém
Lê poesia
Já ninguém gosta
E todos trocam
Amor por dinheiro
Já ninguém faz nada
E tudo é por interesse
Já ninguém toca guitarra
E tocam uma merda
qualquer
Já ninguém lê
O senhor Alberto Raposo
Pidwell Tavares
No entanto
Oiço-o todos os dias
Já ninguém ouve o senhor
Mario Cesariny de
Vasconcelos
No entanto
Leio-o todas as noites
E no entanto
Todos eles
Os dois
Mortos
Falto eu penso eu
Três para jogar à macaca
Dois para saltar à corda
Já ninguém gosta de
poesia
Já ninguém gosta dos
poetas
Já ninguém se atreve a
desafiar o dia
03/12/2023
Porque chovem nos teus
olhos
Estrelas
Pigmentos de luz
Porque brincam nos teus
olhos
Crianças
Meninos com capuz
Porque escrevem nos teus
olhos
Poemas
Todos os poetas do amor
Porque dançam nos teus
olhos
Bailarinas de porcelana
E a Primavera em flor
03/12/2023
Um pouco mais de azul
Se a tua boca me falasse
Que passeia no oiro da
manhã
Um pouco mais de azul se o
encarnado não faltasse
Aos teus olhos
Aos teus olhos de amanhã
Um pouco mais de azul
Ao silêncio do teu viver
Á saudade de te abraçar
Um pouco mais de azul eu
vou querer
E vou agarrar
De azul este pouco
Que muito o consegue ser
Este azul louco
Que só quer viver
Um pouco mais de azul
Ó paleta do meu habitar
No azul da tua boca
Em tua boca beijar
Um pouco
Um pouco mias de azul
No azul de deitar
Um pouco mais de azul
Se a tua boca me falasse
Se a tua boca fosse o mar
02/12/2023
Gosto de ti, neblina do
meu poema, gosto de ti, menina de tranças ao vento, que traz a Primavera, que
leva o sono do meu pensamento.
Gosto de ti, silêncio da
minha madrugada, sol que apazigua a saudade, gosto de ti, flor em papel na
despedida da vaidade,
Gosto de ti, canção que
escrevo, canção que semeio na terra arável,
Gosto de ti, gosto da tua
mão,
No meu rosto triste,
No meu rosto afável. Gosto
de ti, manhã despedida, manhã mulher nua, mulher luar, quando gosto de ti,
vestida de mar
E pincelada de lua.
Gosto de ti, olhos do
mar,
Gosto de ti, cigarro da
minha loucura, perfume do teu jardim, gosto de ti, teus lábios são ternura, são
o lume do meu corpo amachucado
Vaiado
Louco pela tua boca.
Gosto de ti, beijo minguante
das primeiras horas da manhã,
Gosto de ti, gosto tanto
de ti, Primavera do meu encanto, pedacinho de nuvem, no meu olhar, gosto de ti,
menina do mar, menina saudade,
Gosto de ti,
Gosto de ti, lágrima da
tua mão, gosto de ti, cachimbo do meu acordar, quando escrevo no teu rosto,
Quando pinto os teus
lábios… de roxo
Quando sinto dentro de
mim, o teu corpo, despedido de palavras, mergulhado em pontuação e parêntesis,
como se fosse um foguetão, em direcção ao teu desejo.
Gosto de ti,
Gosto de ti, gosto muito
de ti, flor que não vejo,
Poema que se esconde no
rio,
Gosto de ti, ó montanha
do meu olhar, gaivota que me trazes o sono, e me levas para o mar,
Gosto de ti, insónia que
me arranca deste lugar,
Gosto de ti,
Gosto de ti, menina do
meu amar.
02/12/2023
Teus olhos em lume
Meu amor em silêncio
adormecer
Teu corpo em teu ciúme
Do teu ciúme de ser
Teu ser em meu vier
Teus lábios de mel
Nos teus olhos de
escrever
Nesta pobre folha em
papel
Teus olhos em lume
Meu amor da madrugada
Teu sorriso teu perfume
No perfume da palavra
02/12/2023