Procurar

 

Procuro a tua boca no meu peito, procuro a tua voz

Nos meus lábios, procuro

O silêncio do teu olhar

No meu olhar

Procuro as tuas mãos

Nas minhas mãos

Entrelaçada como uma corda de sono

Em direcção ao desejo

 

Procuro a tua insónia

Na minha insónia

Procuro-te na noite

Quando a noite é um pedacinho de saudade nos braços da

Lua

Procuro o teu corpo

No meu corpo

Mesmo sabendo que o teu corpo é um tronco de árvore

Que caminha para a Primavera

Em flor

 

Procuro os teus beijos

Nos meus beijos

Pólen em teu cabelo

Semeado sobre mim

Procuro a tua boca no meu peito, procuro

As lágrimas da manhã no teu sexo

Procuro

A tua mão

Na minha mão

Que procuro

 

Procuro a tua boca, na minha boca, procuro nesta lareira

A fogueira dos teus olhos,

Que também eles me procuram

Ao acordar

O dia

Depois da noite

Em mim procurar

 

 

01/12/2023

Veneno de amar

 

Ó flor sentada

Deusa grega

Fogueira em dissertação

Ó noite sonhada

Que Deus esconde em tua mão

 

Ó flor cansada

Deste jardim de sonhar

Neste pobre jardim de escrever

Ó flor sentada

Em silêncio de viver

 

Ó flor sentada

Dos teus olhos de insónia

Nos teus olhos de mar

Ó flor envenenada

No veneno amar

 

 

01/11/2023

Menina do mar

 

Sonho-te

Ó flor carnal

Que os meus braços acolhem

Quando queres chorar

 

Sonho-te

Menina do mar

Pedra filosofal

A quem os meus olhos escrevem

Poemas de amar

 

Sonho-te

Manhã desassossegada

Manhã triste e cansada

De te sonhar

 

Sonho-te

Quando o mar galga esta janela

Quando o mar silencia todos estes livros

Escritos por mim

No sonhar

De te sonhar

Sonho-te

Menina do mar

 

Sonho-te

Ó flor carnal

Simbologia grega

Lençóis de prata nos teus cabelos

Perdidos no vento

Sem tempo

De me abraçarem

E de te sonhar

 

Sonho-te

Sonho-te menina do mar

Flor do meu cansaço

Deste jardim envenenado pelo tempo

Por gatos sem paciência

Na paciência de pedinchar

De te sonhar

Quando eu te sonho

Quando tenho em mim

Este mar

 

 

01/12/2023

Poema de amar

 

Aquela janela chama-me para olhar a rua

E o que posso eu, ver na rua, de interessante

Transeuntes

Carros

Cães e gatos vadios

Vadios

Vida de lordes

Vida boa

Como eu queria ser

Vadio

Andar por aí

E ser gato

 

Ou por aqui

Pertinho de ti

Junto ao céu

Aquela janela, aquela janela parva

Que não serve para nada

A não ser

Proibir-me de olhar a rua

 

Proibir-me de te olhar

Hoje, aquela janela, quer que eu olhe a rua

E pergunto-me porquê a rua

Porque não o jardim

Porque não o Anjo

Porque

Não

Aqui pertenço antes de levantar voo e partir em direcção ao infinito, imagina-me, de braços cruzados, de calções,

A viajar para o infinito

 

E do infinito

Podia enviar-te um beijo

 

Aqui

Pertenço

A esta janela

Sem vista para o mar

Sem elevador

Sem condomínio

Uma janela inconsciente, embriagada quando regressa a noite, depois

Aterra no pavimento motorizado

E morre

De alegria

De chorar

Quando o navio zarpa

E nos lençóis do mar

As pirâmides do Egipto

O senhor

E Gizé fica do outro lado da rua

Segundo esquerdo

Lisboa

 

Durmo nos teus braços

Procuro a tua boca no cacimbo da tarde, encerro a janela, corro o cortinado

E ela dorme

E eu, sossegadamente, escrevo o poema amar, no teu

Corpo

 

 

30/11/2023

 

Para onde vai esta flor que tropeça no meu caminho

De onde vem esta flor que tropeça no meu caminho

Como se chama esta flor

Que atrapalha o meu caminhar

Para onde vai

Esta flor

Com olhos de chorar

Escritor

 

Quem escreverá tudo isto

Quando escrevo com as minhas mãos

Todas estas palavras

Todas estas canções

Quem escreverá tudo isto

Tudo isto que eu escrevo

Tudo isto que não me pertence

Quem escreverá tudo isto

Tudo isto que me vence

 

 

30/11/2023

Dia

 

Escondo-me do dia

Enquanto o dia

Não é dia

Escondo-me no dia

Quando ao meio-dia

Me dizem

Que amanhã nascerá um novo dia

 

Escondo-me do dia

E de tudo que tem o dia

Depois peço ao dia

Que um dia

Um qualquer dia

Também eu seja dia

 

 

30/11/2023