Para onde vai esta flor que tropeça no meu
caminho
De onde vem esta flor que tropeça no meu
caminho
Como se chama esta flor
Que atrapalha o meu caminhar
Para onde vai
Esta flor
Com olhos de chorar
Quem escreverá tudo isto
Quando escrevo com as
minhas mãos
Todas estas palavras
Todas estas canções
Quem escreverá tudo isto
Tudo isto que eu escrevo
Tudo isto que não me
pertence
Quem escreverá tudo isto
Tudo isto que me vence
30/11/2023
Escondo-me do dia
Enquanto o dia
Não é dia
Escondo-me no dia
Quando ao meio-dia
Me dizem
Que amanhã nascerá um
novo dia
Escondo-me do dia
E de tudo que tem o dia
Depois peço ao dia
Que um dia
Um qualquer dia
Também eu seja dia
30/11/2023
No
teu rosto, insígnia adormecida dos tempos de cólera, no teu rosto
A
sílaba perdida do poema que o poeta escreveu à manhã.
No
teu rosto, o sorriso da noite quando traz consigo a lareira da paixão, e o teu
rosto, alicerça-se ao primeiro pingo de chuva,
Quando
se erguem as margaridas deste jardim.
As
luzes da rua, acordam do sonâmbulo dia, o teu rosto, esconde-se no
Meu
rosto,
E
a maré sonolenta, e a maré, enfeitiçada pela Aurora Boreal do teu sorriso,
imagina no teu rosto um pedaço de sono,
No
desejo da insónia,
Do
teu rosto.
No
teu rosto, ó meu amor, as sanzalas em brincadeira de criança, do teu rosto,
quando penso na escuridão, e dou o triplo salto para o abismo,
Fecho
os olhos, pego no teu silêncio, e sinto o teu rosto juntinho ao meu, e sinto a Primavera
quando transporta na algibeira, as andorinhas, e do outro lado da rua, fica a
casa, a casa onde escondo,
O
meu rosto,
Do
teu rosto.
No
teu rosto, insígnia adormecida dos tempos de cólera, no teu rosto
A
sílaba perdida do poema que o poeta escreveu à manhã.
Do
teu rosto me escondo,
No
teu rosto, deixo ficar, o meu rosto
E
finjo dormir.
E
desenho o teu rosto, no meu rosto, e desenho a tua mão, na minha mão
E
depois da ausência, o mergulho no cacimbo, junto ao rio,
Daquele
rio de que me escondo,
Do
meu rosto,
No
teu rosto
Este
meu poeta com asas de avião, deste pobre poeta, do teu rosto,
O
dia,
Em
poesia.
No
teu rosto.
Do
teu rosto, a madrugada traz a palete de cores que o poeta vai deixar cair, aos
pedacinhos, na tela sem nome, na tela vazia, vazia como a claridade lunar;
Finjo
dormir.
Durmo
no teu rosto.
Do
teu rosto,
Mergulho,
como descrevi à pouco, mergulho no cacimbo junto ao rio, mas que rio é este,
este rio que não conheço, e este rio que também não conhece o teu rosto,
Neste
rio de água cinzenta, na frescura paixão quando o pôr-do-sol corre para o mar,
E
deixarei de ver o teu rosto.
Finjo,
finjo dormir.
No
teu rosto, insígnia adormecida.
29/11/2023
Se estes papeis falassem,
se estes papeis me dissessem alguma coisas, se alguma coisa há para dizer,
Se estes papeis fossem a
chuva miudinha, quando bate ao de leve na vidraça, e quando a vidraça
indiferente à minha presença,
Olha a vidraça do outro
lado da rua,
Se estes papeis fossem o
sono, dormiria todas as noites, não sonhava todas as noites, se estes papeis
conseguissem chegar ao céu, eu falava com Deus…
Se estes papeis, pelo
menos uma vez na vida, me dissessem o que fazem nesta secretária, quem os
mandou vir, e quem autoriza a sua permanência.
Se estes papeis me
abraçassem, se estes papeis me beijassem, enquanto escrevo neles o último poema
da noite.
Se estes papeis, me
deixassem ir, com o vento, ao teu encontro, se estes papeis me dissessem alguma
coisa,
Outra coisa qualquer,
Porque nunca passarão de
papeis,
Qua ardem
Na lareira dos teus
lábios.
Se estes papeis, um dia,
morrerem,
Quero as suas cinzas,
Quero-os; mortos.
29/11/2023
E
se tu morreres! O que farei com o teu corpo. O que farei com as palavras que em
todas as madrugadas brinco, e lhes afago os cabelos,
O
que farei com os sonhos, se tu morreres!
O
que farei aos meus poemas, o que farei a mim, e a todas estas flores.
Se
tu morreres!
O
que farei ao sono, e aos filhos do sono, o que farei ao silêncio, se tu
morreres, o que farei a todos estes livros,
A
todos estes papeis,
Se
tu morreres.
O
que faço a estas mãos, se tu morreres! Contempla-las, imaginar que acariciam o
teu corpo quando a noite é escura, quando a noite é uma lágrima de sono, e
tenho tanto medo de que tu me morras,
E
tenho tanto medo ao que possa acontecer ao teu corpo de tronco de árvore…
O
que farei, se tu morreres!
29/11/2023
Esqueci o teu rosto,
esqueci a tua boca,
Esqueci o teu cabelo, do
loiro amanhecer,
Esqueci as tuas mãos,
E a vontade de te querer.
Esqueci o teu sorrir,
esqueci o teu olhar,
Esqueci a solidão que a
noite abraça,
Que a noite contempla,
Esqueci o mar,
E as limitações do meu
viver.
Esqueci o teu corpo, dócil
tronco de árvore,
Esqueci o luar,
E a razão de escrever.
Esqueci a vida.
Esqueci a rua onde vivia,
esqueci o silêncio,
Esqueci o que devia esquecer
e aquilo que não devia…
Nunca o ser.
29/11/2023