Se estes papeis falassem,
se estes papeis me dissessem alguma coisas, se alguma coisa há para dizer,
Se estes papeis fossem a
chuva miudinha, quando bate ao de leve na vidraça, e quando a vidraça
indiferente à minha presença,
Olha a vidraça do outro
lado da rua,
Se estes papeis fossem o
sono, dormiria todas as noites, não sonhava todas as noites, se estes papeis
conseguissem chegar ao céu, eu falava com Deus…
Se estes papeis, pelo
menos uma vez na vida, me dissessem o que fazem nesta secretária, quem os
mandou vir, e quem autoriza a sua permanência.
Se estes papeis me
abraçassem, se estes papeis me beijassem, enquanto escrevo neles o último poema
da noite.
Se estes papeis, me
deixassem ir, com o vento, ao teu encontro, se estes papeis me dissessem alguma
coisa,
Outra coisa qualquer,
Porque nunca passarão de
papeis,
Qua ardem
Na lareira dos teus
lábios.
Se estes papeis, um dia,
morrerem,
Quero as suas cinzas,
Quero-os; mortos.
29/11/2023
Sem comentários:
Enviar um comentário