Às fingidas rosas do meu envelhecido
jardim,
às árvores envelhecidas do meu
envelhecido jardim,
aos pássaros do meu envelhecido jardim
e que infestam o meu corpo de sons estúpidos,
sangrentos,
como o amanhecer do teu olhar,
À Primavera que quase a regressar...
eu não a sinto,
porque o meu envelhecido corpo que
habita no meu envelhecido jardim... morreu,
voa ente noites de prazer e poesia...
sem o saber,
e palavras que não consigo assassinar,
se eu pudesse... matava-a... à maldita
“melanoma”,
Se eu pudesse, se eu quisesse... o meu
envelhecido corpo que habita o meu envelhecido jardim...
transformava-o em poéticos melódicos sorrisos,
mas não,
não a consigo assassinar,
nem tão pouco me apetece escrevê-la,
Às formigas do meu envelhecido jardim
onde pernoita o meu envelhecido corpo,
sinto-o como se fosse uma âncora de
papel sobre os ombros de um feliz travesti,... embriagado com a
beleza do espelho mágico de uma Lisboa enfeitada com envelhecidos
jardins e envelhecidos corpos... todos... todos embriagados,
sonolentos,
como as nuvens cinza dos cinzeiros de
lata,
como... como os meus cigarros que
dormem numa esplanada vagabunda, sós, sós... como eu,
Aos sinos da Igreja do meu envelhecido
jardim onde habita o meu corpo em jejum,
lágrimas para quê?
às palavras que resisto em não
escrever, como amar, ou... rezar,
e se eu a pudesse assassinar...
rezava... rezava até não me cansar...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 10 de Março de 2014