segunda-feira, julho 07, 2025

O meu nome

 

Deram-me um nome, vestiram-me de luz

Lavaram-me com as nuvens da noite anterior

Fizeram-me o favor, e vestiram-me umas sandálias em couro, e calçaram-me

Os meus primeiros calções

 

Desse nome pouco ou nada recordo, mas tive um nome, e tive, também, uma alcunha

Vivi numa montanha de espigas, brinquei no centro de massa da última tarde deste século

Depois veio o fogo, transpirou a chuva

 

Nas suas tristes sílabas, tive um jardim em prata, tinha alcunhas, tinhas pedaços de madeira

Alguém as apelidou de sombra, e outros

Lhes chamavam de primavera

Ou até de ribeira

 

E o que resta de mim, é apenas este nome

É e só, a lágrima disfarçada de viúva-alegre, sabia-o longo que rompessem as chuvas do penúltimo relógio no último cais de embarque

Veio-se, e percebeu que todo aquele sémen era e só algumas palavras à procura de uma vírgula, sempre que acordava o senhor Alberto, na mão

 

O meu nome.

Sem comentários:

Enviar um comentário