terça-feira, abril 01, 2025

Ao longe o destino, entrava em nós a luz quase desejo

Ao longe o destino, entrava em nós a luz quase desejo e projectava-se no espelho, havia uma janela que dava para a rua, havia uma rua, em baixo, que quase não sabia da existência da janela, às cinco em ponto ouvíamos os sinos da torre da Sé, que tão perto estava

Que às vezes, enquanto eu fumava, poisava o cigarro e voava,

E daqui a pouco,

Encontrava-me sentado na torre da Sé. Depois

Depois ficava por lá, como se fosse o meu esconderijo e onde observava a cidade, 

De uma outra cidade; a minha.

Vestia-me, e voltava novamente para o quarto, ela

Dormia, apenas tapada com um lençol, via-lhe o ombro esquerdo e as nádegas perfeitamente desenhadas, que aos poucos, se erguia do sono, olhava-me

Adormeci desculpa.

Eu pegava no cigarro, entre duas e três baforadas

Não faz mal, dorme meu amor.

Havia pássaros junto ao terreio, o rio começava o dia entre uísque e um ou dois cálices de vinho do porto, depois o rio, já muito acordado e de ter palmilhado ruas e ruelas da tua púbis, numa corrida tão louca,

Que quase sempre,

O rio,

No final do dia,

Quase noite,

Muito depois

Dormia, de tão embriagado estar.

Começou a chegar tarde e a más horas ao mar, o mar

Furioso,

Então pá?

Cá estamos, mais um Natal, não é verdade?

Ela

Amo-te sabias?

Claro que eu sei, claro que ao outro dia, o rio

Novamente acordado, novamente

Daqui a pouco,

Quase embriagado.

E ninguém daquela rua sabia, ou sabe

O nome daquele rio, que na minha cama se deitava,

Ao final da tarde.

No momento, era apenas o vento e todos os outros espantalhos da aldeia. Depois veio a chuva, miudinha, entranhava-se na tua pele como quase se tratasse de uma lágrima,

Quando não era ainda uma lágrima, quando ainda havia e tínhamos um aquário na cozinha, quando ainda eu conversava com os peixes antes de me deitar, depois

Dormia também, sonhava pouco, 

E dormia pouco,

Ela sonhava e murmurava qualquer coisa inaudível, eu

Olhava-a e escutava-a no silêncio de um dos seus seios poisados sobre o leito.

O que escreveria eu, no seu seio, antes de ela acordar?

Nunca se sabe como acordará o rio ao outro dia, mas quase sempre

Era inverno naquela casa, naquela janela quase que tocava a torre da Sé…

Cinco horas. Começávamos a contar as baladas na quase final de tarde, ela já acordada

Estava tão cansada meu amor!

E eu imaginava-a sentada sobre um lençol de estrelas e que me olhava e que me dizia,

Amo-te sabias?

E claro que eu o sei!


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