quarta-feira, 16 de outubro de 2024

O vinho do amor

 

De um cubo de vidro

habita o desejo vinícola dos teus seios amargurados

suspensos no abismo do sumo tentacular do silêncio

o teu corpo no meu corpo

um só cacho de sabor

que alimenta o vinho do amor

 

há abelhas que se masturbam sobre as tuas mãos

brincam

um rio e uma criança

e um homem com um chapéu de xisto sentado nas tuas coxas

poisa a enxada invisível sobre a mesa do jantar

enquanto inventas pasteis de nata e queijo de cabra

o homem entra nas tuas coxas com pálpebras de milho

e as torradas do pequeno-almoço

fingem um orgasmo de aveia

brincam

ele e ela e milímetros cúbicos de mosto dentro do cubo de vidro

 

gosto de ti recheada com as manhãs de chuva

quando as algibeiras das janelas de vidro

mergulham suavemente nos teus lábios

 

gosto de ti recheada de rosas amarelas e nuvens de prata

a uma só voz

sobressai

sobressai um gemido misto

e nas paredes do cubo de vidro

e nas paredes do cubo de vidro

a tua língua como uma caneta de tinta permanente

percorre o meu corpo de pergaminho

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