domingo, outubro 20, 2024

Ao léu entre abraços e cansaços

 

Os cansaços que a vida me deu

de abraços em pedaços de sol

os carrascos cansaços de uma manhã ao léu

como as cartas do Pacheco (Luiz Pacheco, Cartas ao Léu)

os silêncios das espigas poesia

entre cansaços e carrascos

os teus e os meus abraços

dentro de uma barcaça em dias de alegria,

 

Havia

havia poucas ou nenhumas cartas de amor

que palavras eu diria

à lareira a saudade que ardia

da lareira o sorriso de uma bela e linda flor

havia cigarros de conserva com molho de tomate

havia

e eu sabia que das minhas pobres mãos nascia

e crescia

um lindo menino de nome alicate

coitado coitadinho

enfezado como os orgasmos da menina fantasia,

 

Os cansaços que a vida me deu

poucos

abraços e beijos às bocas que o velho com cabeça de abobora

semeou e plantou e dizimou

não sabendo que eu sabia

que havia

laranjas e limões para a sobremesa

disfarçada de melancia,

 

E havia

homens amantes do sol

e mulheres que amavam a lua

e eu

não sabia

e eu

percebia

e eu

farto da escrita de porcaria

que faço

e invento sem saber e perceber

que um dia vou morrer,

 

E alguém vai dizer

escrever

que grande merda este gajo nos deixou

porque os cansaços que a vida me deu

me tirou

e o amor derretido em paixão

arde docemente à lareira

a mesma lareira onde se aquece a flor

disfarçada de amor

que da minha mão

me amou

ou vai amar,

 

quando perceber

que eu

que eu sou filho do mar...

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