quinta-feira, 3 de outubro de 2024

A nossa misera madrugada dos relógios infinitos

 

Mergulho nos cansaços das pedras doridas

com o coração prisioneiro num cubo de aço

quando o sorriso da revolta

dos pássaros

as flores que a noite come em pedacinhos de nada

a madrugada

a nossa misera madrugada dos relógios infinitos

o tempo escoa-se nas escarpas visíveis das rochas amargas

a boca

sem o beijo indesejável da aranha

abelhas

nas colmeias da insónia,

 

gostava de preencher os espaços vazios do medo

com os barcos envelhecidos

que o rio engole

com a língua do mar,

 

as abelhas nas colmeias da insónia

quando a madrugada

quarta-feira em desalinho,

 

ontem eu percebia que as árvores dançavam sobre as mesas de mármore

que no cemitério das ervas daninhas

as agulhas das tardes de Outubro

brincam com os comboios de papelão...

 

(as abelhas nas colmeias da insónia

quando a madrugada

quarta-feira em desalinho),

 

e descem sobre mim as lágrimas das nuvens incolores

nas persianas que o sol tece

e a tua mão semeia na terra vendada das palavras.

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