A porta de acesso ao
sótão
encerrada nos umbrais da
madrugada
uma gaja nua
uma gaja nua brinca com
um triciclo de madeira
num quintal inventado em
Luanda
as mangueiras incham no
silêncio das nuvens de algodão
e um líquido espesso cai
sobre os gemidos imaginários da tarde
a gaja nua desenha
sorrisos no espelho do sótão
(este gajo, eu, é
completamente louco)
a porta
encerrada
com os gonzos soldados
aos gemidos das noites de orvalho
e as dores de coluna das
escadas de madeira
o reumatismo de sempre
os malditos bicos de
papagaio
(este gajo)
a gaja nua escreve versos
nas paredes de gesso
com fendas para a solidão
do mar
(este gajo, eu, é
completamente louco)
de gesso com fendas para
a solidão do mar
(fico sem papel e para
continuar recorro aos desperdícios
pedaços poisados sobre a
secretária de madeira)
e eis que oiço a gaja nua
a dançar sobre a
secretária de madeira
com pernas de marfim
e dentes de aço
e lábios de cereja
percebo que a realidade
aparece
desaparece
e esconde-se na algibeira
da Primavera
encerrada
a pocilga sem número de
polícia
com escadas e uma gaja
nua
que dançam sobre a
secretária de madeira lapidada.
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