Dissecar este copo de uísque, autopsiar cada uma das três pedras de gelo, olhar para a janela acreditando que está lá alguém, mas de acreditar ninguém vive, e ninguém está na janela
Desligo a música, e já
não oiço o aparelho de oxigénio que desenhava alguma alegria no sorriso da
minha mãe
Não há muitos meses,
desligava a música e ouvia-o
Pum, pum pum
Às vezes mal ouvia o
Pum, pum pum
Erguia-me loucamente e
quando chegava junto a ela, respirava docemente
Tinha sido falso alarme
Lamento-me da minha miséria,
do amor, desamor…
E pergunto-me; e se eu
tivesse cancro?
Fingiria tão bem como
fingiu o meu pai e como fingiu a minha mãe?
Eu sabia que o meu pai ia
morrer
O meu sabia que ia morrer
Eu fingia ao meu pai que
todos os pássaros são lindos, quando alguns são ranhosos
E o meu pai fingia que
era o homem mais feliz do universo
Quando estava sentado ao
seu lado
Eu contava os minutos que
faltavam para ele começar a voar
E ele
Ele despieda-se nos meus
olhos, desenhando um fino sorriso…
Saberia eu, fingir tão
bem?
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