domingo, 14 de abril de 2024

A gata da minha vizinha que toca piano

Puxo de um cigarro, vou à varanda, talvez alguma coisa me inspire, e vejo e oiço a gata da minha vizinha a tocar piano; pensei, porque não a gata da minha vinha que toca piano?

 

Speakeava francês

E falava alguns números complexos

Que se estudam em matemática

Em que existe uma parte real

E uma outra parte

Imaginária.

 

Também a gata da minha vizinha

Que toca piano

Que speak francês

E muito pior do que isto

Ainda é virgem;

No horóscopo e afins,

- é imaginária.

 

Na minha infância

As sanzalas eram de prata

Hoje

Hoje não sei como se chama a minha terra

Hoje não sei as cores da minha terra.

 

Hoje

Hoje não sei como se chamava a minha mãe

Hoje

Hoje não sei como se chamava o meu pai

Hoje não sei como se chama a gata da minha vizinha

Talvez se chame Aurora

Talvez se chame Cristina

Talvez não se chame

Talvez se chame Primavera.

 

Hoje

Hoje não venho para aqui falar da minha vida pessoal,

Hoje preciso de escrever alguma coisa,

A gata da minha vizinha que toca piano.

 

 

A gata da minha vizinha que toca piano

 

 

Os seus dedos eram tão finos

Como os finos fios loiros da seara.

Eram tão finos e tão belos

Como os primeiros silêncios de sol,

Eram tão finos, os seus dedos,

Eram tão finos como a última lágrima do luar…

 

E quando os seus dedos de tão finos

E de tão belos

Se esquecem que estão sobre as teclas do piano…

E dançam como margaridas.

 

Os seus dedos eram tão finos

E eram tão belos

Como o pôr-do-sol

De tão belo e de tão fino…

 

Os seus olhos e os seus lábios e o seu cabelo eram fão finos e tão belos

Como os seus dedos

De tão belos e de tão finos

Sobre o Ré Ró…

De tão belos.

 

 

Não é isto que eu quero.

Não. Não é isto que eu quero escrever sobre a gata da minha vizinha que toca piano, e que durante a noite, me delícia nos meus momentos de insónia.

 

 

Alguma coisa irei escrever sobre a gata da minha vizinha que toca piano...

 

 

(Francisco

14-04-2024)

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