Puxo de um cigarro, vou à varanda, talvez alguma coisa me inspire, e vejo e oiço a gata da minha vizinha a tocar piano; pensei, porque não a gata da minha vinha que toca piano?
Speakeava francês
E falava alguns números
complexos
Que se estudam em
matemática
Em que existe uma parte
real
E uma outra parte
Imaginária.
Também a gata da minha
vizinha
Que toca piano
Que speak francês
E muito pior do que isto
Ainda é virgem;
No horóscopo e afins,
- é imaginária.
Na minha infância
As sanzalas eram de prata
Hoje
Hoje não sei como se
chama a minha terra
Hoje não sei as cores da
minha terra.
Hoje
Hoje não sei como se
chamava a minha mãe
Hoje
Hoje não sei como se
chamava o meu pai
Hoje não sei como se
chama a gata da minha vizinha
Talvez se chame Aurora
Talvez se chame Cristina
Talvez não se chame
Talvez se chame Primavera.
Hoje
Hoje não venho para aqui
falar da minha vida pessoal,
Hoje preciso de escrever
alguma coisa,
A gata da minha vizinha
que toca piano.
A gata da minha vizinha
que toca piano
Os seus dedos eram tão
finos
Como os finos fios loiros
da seara.
Eram tão finos e tão
belos
Como os primeiros
silêncios de sol,
Eram tão finos, os seus
dedos,
Eram tão finos como a
última lágrima do luar…
E quando os seus dedos de
tão finos
E de tão belos
Se esquecem que estão
sobre as teclas do piano…
E dançam como margaridas.
Os seus dedos eram tão
finos
E eram tão belos
Como o pôr-do-sol
De tão belo e de tão fino…
Os seus olhos e os seus
lábios e o seu cabelo eram fão finos e tão belos
Como os seus dedos
De tão belos e de tão
finos
Sobre o Ré Ró…
De tão belos.
Não é isto que eu quero.
Não. Não é isto que eu
quero escrever sobre a gata da minha vizinha que toca piano, e que durante a
noite, me delícia nos meus momentos de insónia.
Alguma coisa irei
escrever sobre a gata da minha vizinha que toca piano...
(Francisco
14-04-2024)
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