quinta-feira, março 07, 2024

Portão nocturno

 

Quase nada a desfalecer este portão nocturno

esta escura porta com mãos de árvore

e olhos de cansaço

este portão em rumo à púbis

que às vezes se esconde numa algibeira

que às vezes é lágrima de sono

que muitas outras vezes

é apenas uma parede fria

com cabelo em pétala adormecida.

 

Quase nada espera

esta cadeira onde me sento

onde penso

e penso que é mais feliz um parafuso roscado

sob a lápide da insónia

do que este corpo que transporto

a quem fico sempre em dívida

a cada noite que se suicida.

 

Feliz aquele que se suicida.

 

Feliz as limalhas de ferro que escondem a minha pele ao sol

e felizes também

as pedras que trago comigo e saboreio antes do almoço

quando o almoço parece uma tempestade de portões

com muitos braços mecânicos

alguns componentes eléctricos

e electrónicos

e quase nada a desfalecer este portão nocturno

que vive na unha do meu dedo.

 

 

(orgasmo literário)

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