segunda-feira, 11 de março de 2024

Novembro

 

Não sei como dormir

quando me roubas o sono

me roubas as palavras

não sei como dormir

quando sinto em mim a maré acorrentada

que mais parece uma prisão de areia.

 

Não sei como dormir

acordando estas teias de aranha

falo com elas

falo-lhes de ti

e do teu cabelo

e dos teus olhos

e da tua voz quando mergulha no silêncio do sonho.

 

Não sei como dormir

quando tenho de inventar o sono

nos meus olhos

que no oceano

os rochedos são serpentes de medo

junto ao mar.

 

Não sei como dormir

quando na janela do meu peito em Novembro

um grama de ti

acorda nas flores que dormem na minha secretária

não sei como dormir

não sei como desenhar-te na insónia

porque não sei desenhar

e apenas tenho a insónia.

 

Não sei como dormir

se os teus olhos são uma jangada de vidro

que nos teus olhos apareçam as estrelas

e os planetas do teu olhar

não sei como dormir

quando os teus olhos poisam numa almofada

e o teu sorriso lavra o poema que tens na mão.

Não sei como dormir

quando não me deixas dormir.

 

 

(orgasmo literário)

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