quarta-feira, março 20, 2024

Despedida

Só os teus olhos semeiam a paz nesta despedida,

que aos poucos, lentamente, vou construindo no amanhecer.

Este labirinto a cada minuto de solidão, a cada pedaço de espuma do luar, a cada teu olhar, desaparece como se fosse uma nuvem de silêncio, de encontro aos rochedos.

 

Começa hoje a Primavera do teu cabelo.

Sento-me nesta ausência percebendo que pertenço a esse mar imenso das paisagens do silêncio, oiço os teus gemidos de luz, percebo que sou apenas um pedacinho de nada em direcção ao abismo,

o frio e o escuro silêncio da madrugada,

oiço as fotografias enraivecidas que desde a noite passada resolveram, todas elas, invadirem os meus pensamentos, e percebo que cada personagem que habita nelas, são apenas sombras da minha infância,

rasuro-me no espelho do quarto.

 

Invento o sono das persianas da janela e resolvo voar em direcção ao luar, como as abelhas em flor, como todos os pedacinhos de mel que sobejam no silenciado corpo nocturno do silêncio…

 

E quando me pergunto o que faz um pedacinho de mel poisado num dos meus poemas…

Ele, ela, respondem-me

nada.

Peso.

Silêncio.

Paixão.

 

 

(Francisco)

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