terça-feira, 5 de março de 2024

Andorinha-pobre

 


Disfarço-me de andorinha

e sem dares conta,

quando estiveres distraída,

poiso nos teus olhos,

dizer que apenas tenho condições para me disfarçar

de andorinha-pobre;

cada um, veste a roupa que tem.

 

Disfarço-me de andorinha

andorinha-pobre

e cavalgo os teus cabelos apenas com o meu olhar,

sabes, ainda esta noite o fiz;

em sonho, claro.

 

Disfarço-me de andorinha

de andorinha-pobre

e escrevo, muito, para ti;

escrevo, mas tenho vergonha do que te escrevo…

por isso estes escritos morrerão no disco rígido deste portátil

até que uma das minhas mãos, um dia os apague.

 

Disfarço-me, disfarço-me de poeta

poeta-pobre porque a minha roupa é fraca,

e escrevo,

escrevo para esta andorinha-pobre,

muito pobre,

tão pobre que a própria noite está em melhor cotação monetária do que ela;

coitado do poeta. É um coitado este poeta.

 

Quanto à andorinha-pobre…

lá anda, feliz da vida,

como se apenas ela tivesse acesso ao mar,

quando qualquer bicho-careto tem acesso ao mar,

e nem de estudos precisa.

 

 

(orgasmo literário)

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