segunda-feira, 11 de março de 2024

A metamorfose dos pássaros

 

Um dia serei apenas poeira, e tu, um dia, serás a luz das minhas palavras; e antes que eu seja poeira, questiono-me se as minhas palavras, hoje, são mesmo palavras ou, pequenos devaneios, como dizem aqueles que não sabem, desconhecem, o prazer das palavras.

Os pássaros nascem pássaros e, não sabem voar. Eu não nasci pássaro, mas voava sobre o mar de Luanda, escrevia sobre o mar de Luanda, e hoje, pareço um pequeno rochedo à espera de que a maré se dissipe no pôr-do-sol.

Os pássaros têm a paixão nos lábios, eu tenho a paixão nas asas, em papel colorido, como os papagaios que a minha mãe construía nos finais de tarde, debaixo das mangueiras.

E os pássaros que nasceram pássaros, hoje são os sonhos que habitam em mim, como habitam os cheiros, como habitam as cores, como habitam os teus olhos, nas minhas palavras. Louco, eu? O que seria da loucura se não existissem pássaros que voavam nos céus de Luanda…

Depois, nasce o beijo entre dois simples olhares, olhares que se perdem no luar, enquanto no céu, os pássaros dos sonhos, esses, vagueiam sobre o mar, depois, nasce o beijo entre as minhas mãos e as tuas mãos, mas… serei sempre poeira.

Poeira…

Enquanto carrego sobre o meu frágil corpo a nuvem escura da saudade, esses mesmos pássaros, que não sabem o que é a saudade, gritam e choram, como eu, nas noites recheadas de insónia. Mas os pássaros sabem o que é a paixão.

A paixão dos pássaros.

De mim, apenas, a paixão das palavras…

E seremos dois corpos separados por um espelho; o espelho do medo.

 

 

 

(orgasmo literário)

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