Um
dia serei apenas poeira, e tu, um dia, serás a luz das minhas palavras; e antes
que eu seja poeira, questiono-me se as minhas palavras, hoje, são mesmo
palavras ou, pequenos devaneios, como dizem aqueles que não sabem, desconhecem,
o prazer das palavras.
Os
pássaros nascem pássaros e, não sabem voar. Eu não nasci pássaro, mas voava
sobre o mar de Luanda, escrevia sobre o mar de Luanda, e hoje, pareço um
pequeno rochedo à espera de que a maré se dissipe no pôr-do-sol.
Os
pássaros têm a paixão nos lábios, eu tenho a paixão nas asas, em papel
colorido, como os papagaios que a minha mãe construía nos finais de tarde,
debaixo das mangueiras.
E
os pássaros que nasceram pássaros, hoje são os sonhos que habitam em mim, como
habitam os cheiros, como habitam as cores, como habitam os teus olhos, nas
minhas palavras. Louco, eu? O que seria da loucura se não existissem pássaros
que voavam nos céus de Luanda…
Depois,
nasce o beijo entre dois simples olhares, olhares que se perdem no luar,
enquanto no céu, os pássaros dos sonhos, esses, vagueiam sobre o mar, depois,
nasce o beijo entre as minhas mãos e as tuas mãos, mas… serei sempre poeira.
Poeira…
Enquanto
carrego sobre o meu frágil corpo a nuvem escura da saudade, esses mesmos
pássaros, que não sabem o que é a saudade, gritam e choram, como eu, nas noites
recheadas de insónia. Mas os pássaros sabem o que é a paixão.
A
paixão dos pássaros.
De
mim, apenas, a paixão das palavras…
E
seremos dois corpos separados por um espelho; o espelho do medo.
(orgasmo literário)
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