- Irene! Irene!
Sirva o leite-creme!
(Alexandre O'Neill)
Podíamos comprar
o mar
Meu amor.
Podíamos desenhar
o vento
Nas planícies
lunares,
Podíamos escrever
no sono
A tua
insónia,
Os teus
lamentos.
Podíamos correr
em vez de te sentares
Podíamos mergulhar
nas estrelas
E sermos
pedaços de um peixe,
Dentro de
um aquário.
Podíamos correr
na praia
Ou podíamos
nos esconder dentro de um armário…
E a troco
de um mísero salário,
O poeta
sofre
O poeta
ama sofrer amando o sol.
Podíamos comprar
o mar
Meu amor.
Podíamos amarrar
as mãos à primavera
Podíamos dançar
sobre a estrada,
Ou sobre
o rio
Ou sobre
a sombra
Ou sobre
nada.
Podíamos pertencer
aos ângulos obtusos
Decifráveis
na madrugada,
E um
pouco de tolo à nascença.
Um tanto
eu
Este cigarro
Um tanto
pouco de mim
Quando quero
comprar-te o mar…
E tão pouco
salário para ver o luar.
Podíamos comprar o mar,
Quando te
amo
Quando não
te amo
Quando tenho
medo de te amar.
Podíamos comprar
o mar
Meu amor.
Podíamos comprar
todas as palavras
Todos os
sonhos
E todos
os rios.
Podíamos comprar
o mar
Meu amor.
Podíamos comprar
a aurora boreal
Podíamos comprar
a luz
A velocidade
Podíamos comprar
um grama de sono
Ou um
quilograma de azul.
Podíamos comprar
o mar
Meu amor.
A justiça
Podíamos comprar
a ausência
O nó
Ou a
pedra-pomes.
Podíamos comprar
uma ribeira
Ou uma
montanha,
Ou o mar…
Meu amor.
09/02/2024
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