A estes socalcos de sono que a manhã
engole
porquê
este rio com braços de vidro
que esgravatam a terra semeada de
palavras
a estes socalcos
porquê
este rio visionário à procura de
tristeza em flor
e de alegria em pequenos chuviscos de
prata
A estes silêncios os socalcos imaginados
por uma abelha
o doce mel que envenena a mão da solidão
as estrelas que se escondem na virgem
floresta da tua boca
os socalcos que são tristes
porquê
este rio fatalista e perdido na
escuridão do pesadelo
A estes socalcos que me trazem às veias
o sangue poético da madrugada
quando a madrugada é uma pirâmide de meninice
à volta de uma fogueira de pequenos
sonhos
e muitos nadas
marés de aço suspensas na asna do primeiro
beijo ao acordar
mar que incendeia os lábios
e planta
sobre o mar a sonolência
São estes socalcos que os meus olhos
esculpem na ardósia desta minha ausência
nestes socalcos de viver
destes socalcos de sofrer
encurralados na esperança de um simples
olhar
porquê
os socalcos são os sonhos da videira
que têm nas folhas os guizos das cabras
e das ovelhas transparentes do primeiro
dia de aulas
A estes socalcos me despeço como se eu
fosse embarcar neste petroleiro que tem nos olhos a mingua lua
e tem nos lábios o sulfito cansaço deste
porto de mar abandonado
são estes socalcos com cabelo de sémen
com lágrimas de vento
porquê
se afastam da minha sombra
27/02/2024
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