terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O centeio da manhã

 

Beijarei os teus olhos, límpida água da ribeira que transporta o sono para o rio,

Beijarei o teu sono,

Beijarei os teus medos, de teres medo, beijarei as tuas mãos, lua mingua das noites proibidas, pedaço de sargaço nas mãos do homem,

Beijarei o teu cabelo,

Os teus lábios de fina ardósia,

Beijarei a tua sombra, quando se ergue a noite dentro deste cubo invisível,

 

Beijarei o sol, beijarei Deus, beijarei o teu corpo, docemente, como se fosse um pedacinho de chocolate…

Perdido nos meus dedos.

 

Beijarei a tua face, oculta, beijarei as primeiras lágrimas que a manhã lança para o mar, beijarei a montanha,

Quando o peso da montanha é desprezável,

Comparado com o peso da noite,

 

Beijarei simplesmente a tua testa, afagarei as tuas asas, pássaro das caravelas em flor,

Erguendo-se deste rio,

Levantando-se deste chão calcinado pelo cacimbo,

Beijarei os teus dedos, milésima canção de adormecer…

Quando da janela oiço a tua voz misturada com o centeio da manhã,

Beijarei o teu silêncio, beijarei;

Enquanto houver sol,

Enquanto houver dia.

 

 

 

02/01/2024

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