Beijarei os teus olhos,
límpida água da ribeira que transporta o sono para o rio,
Beijarei o teu sono,
Beijarei os teus medos,
de teres medo, beijarei as tuas mãos, lua mingua das noites proibidas, pedaço
de sargaço nas mãos do homem,
Beijarei o teu cabelo,
Os teus lábios de fina ardósia,
Beijarei a tua sombra,
quando se ergue a noite dentro deste cubo invisível,
Beijarei o sol, beijarei
Deus, beijarei o teu corpo, docemente, como se fosse um pedacinho de chocolate…
Perdido nos meus dedos.
Beijarei a tua face,
oculta, beijarei as primeiras lágrimas que a manhã lança para o mar, beijarei a
montanha,
Quando o peso da montanha
é desprezável,
Comparado com o peso da
noite,
Beijarei simplesmente a
tua testa, afagarei as tuas asas, pássaro das caravelas em flor,
Erguendo-se deste rio,
Levantando-se deste chão
calcinado pelo cacimbo,
Beijarei os teus dedos, milésima
canção de adormecer…
Quando da janela oiço a
tua voz misturada com o centeio da manhã,
Beijarei o teu silêncio,
beijarei;
Enquanto houver sol,
Enquanto houver dia.
02/01/2024
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