Procuro na tua boca as
primeiras lágrimas da manhã, e que seja
A manhã de um novo
amanhã.
Que seja o último poema. Que
seja.
E que sejam as minhas
últimas palavras, escritas
Ditas.
E que sejam.
Procuro os teus lábios
neste incêndio de madrugadas, procuro os teus olhos, neste inferno de viver,
Vivendo que seja,
Que seja amanhã o dia sem
noite,
Que seja a embriaguez
Que seja
Dentro desta aflição.
Que seja este copo de
uísque o meu último veneno
Que seja
Que morra esta noite.
Que seja a solidão o meu
último abraço,
Que seja.
Que seja a limonada
A minha última refeição,
Que seja.
Que seja o grito,
Que seja.
Que seja a tua boca uma
sílaba,
Que seja,
Bem que seja,
Antes que o meu corpo
seja merda, palha, ramos de árvore.
Que seja o vómito a tua
alegria,
Que seja,
Que nada seja,
Quando tudo quer ser.
Que seja noite, sempre
noite, mais uma noite, assim…
Que seja.
Que sejam os chifres do
carneiro,
Que sejam,
Quando o poema morre de
aflição, morre de tesão, que seja a morte o meu último desejo,
De te ver,
E que seja,
Antes de partir a madrugada.
Que eu seja.
Que seja Inverno nestes
cubos de gelo,
E que seja,
Amanhecer sem razão,
Grito, que seja espasmo,
que seja razão sem vida numa outra vida, que seja
Aldrabão, que seja.
Que seja Deus, que seja
Cristo, que seja.
Que seja este parvalhão
com a cruz às costas, que seja,
Enquanto eu,
Prefiro ser,
Levar-te nos braços e
beijar-te e amar-te…
Que seja.
Que seja a tua boca silêncio,
a voz, a rasura rasurada nos teus lábios.
Que seja.
Que seja ontem, que seja.
E hoje, também, que seja.
Que seja esta merda
dentro desta merda…. E do outro que seja.
Que seja amanhã, que
seja.
Procuro na tua boca as
primeiras lágrimas da manhã, e que seja
A manhã de um novo
amanhã.
Que seja o último poema. Que
seja.
Que seja.
31/12/2023
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