terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Na tua mão

 

Os teus olhos,

Meu amor,

Não têm o mar,

Os teus olhos

Têm os meus olhos.

Os teus lábios,

Meu amor,

Não têm mel,

Os teus lábios

Têm os meus lábios.

As tuas mãos,

Meu amor,

Não têm flores,

As tuas mãos

Têm as minhas mãos.

 

Os teus olhos

Têm palavras, têm silêncio, têm barulho

Têm uma lareira de insónia

Quando regressa a noite,

Quando a noite pertence aos teus lábios,

Quando a noite se veste de poema…

E caminha descalça pela rua.

 

Os teus lábios,

Meu amor,

Os teus lábios têm a mediatriz do desejo,

Os teus lábios têm a chuva, miudinha, em pequenas gotículas

Quando ao longe se vê o pôr-do-sol.

Os teus lábios têm a quinta sinfonia de Beethoven,

E, no entanto,

Às vezes,

Procuro nos teus lábios

Poemas de AL Berto ou de Botto; felizmente que os encontro.

 

E das tuas mãos, meu amor,

Das tuas mãos chegam a mim os sons do silêncio, das tuas mãos chegam a mim os primeiros pingos de chuva da manhã,

E das tuas mãos, a âncora para que o meu corpo não voe sobre o mar,

E apenas voe no teu olhar.

E das tuas mãos,

O poema que nunca se perde,

E se escreve,

Enquanto a noite brinca…

Na tua mão.

 

 

12/12/2023

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