Devo sofrer de disfunção
Não do foro eréctil
Mas sim do movimento
solidário em silêncio psicológico
Não sei se já sou tio
Mesmo que o fosse interinamente
Ficaria muto orgulhoso contente
a gente
Quase a ser avô
Quase a ser nada quando
comparado com tudo
É muito pouco.
Falando em interinamente
Também o fui
Como pai
Mas fui devolvido à procedência
A maré é de cocó
O triângulo equilátero
que me assola
Não assombra
Mas assopra
Sobre o mar qualquer
coisa de se comer.
Como-te saboreio-te
acaricio-te olhar
Não te frito
Porque quando estou
aflito
De te olhar
De te acariciar
Não consigo te fritar
Como-te delicadamente
E com o dedo e com a
língua
Retiro de ti o açúcar e a
canela
E não fosses tu uma “frita
de Natal”
Eu diria que eras a nave
espacial mais bela da galáxia.
Devo sofrer de qualquer
coisa real
Isenta de impostos
Qualquer coisa que
satisfaça o conselho indisciplinado da ausência…
Dizem que coifou os
parafusos
E se coifou ou não coifou…
Só ele é que o sabe.
Devo estar louco
Devo estar quente
Sente
Um pouco
Enquanto nada parece cinzento
E a primeira lágrima
É uma albarda de sono.
Pinto-me de escuro. Afoito-me
nestas camisas pálidas e sem nome
Provando memórias
Escolhendo por entre a
fome
Os chifres esqueléticos
das cabras
Quando procuram os gémeos
das fotografias
E um pedaço de silêncio
prateado
Desventra o seu corpo de miúça
catanada.
Dançam as meninas de
além.
Dormem os meninos de cá.
Escrevem os poetas de
cima.
Suicidam-se os poetas do
andar de baixo.
E mesmo assim
E no entanto
Devo sofrer de disfunção
Não do foro eréctil
Mas sim do movimento
solidário em silêncio psicológico
Não sei se já sou tio
Mesmo que o fosse interinamente
Ficaria muto orgulhoso contente
a gente
Quase a ser avô
De um poema lindo.
30/12/2023
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