Escondo-me neste cubículo
E desenho no sombreado
das paredes
O som do silêncio.
Puxo de um cigarro.
Escondo-o nos lábios e
penso…
Penso nos teus olhos
enquanto dormem
E sonham com os meus
olhos,
Escondo-me neste cubículo
E escrevo no teu corpo
O silêncio das minhas
mãos.
Escondo-me neste
cubículo.
Fumo.
Penso.
Escondo-me neste cubículo
E sonho com os teus
lábios sonolentos com sabor a mel…
Tenho medo, mãe.
Tenho medo do sonho
E do sono
E da insónia,
Tenho medo, mãe, tenho
tanto medo do silêncio
E das mãos do silêncio
quando tocam o meu rosto,
E este cubículo indiferente
a ti e a mim,
Olho-te e pareço um tolo
que acredita nos teus olhos,
Quando tu, (tenho tanto
medo, mãe), quando tu estás morta e não tens olhos,
Quando eu, estou vivo,
E tal como tu, também não
tenho olhos,
Não tenho mãos para
escrever,
Não tenho mãos para
desenhar,
Não tenho olhos, mãe…
Não tenho olhos para te
olhar.
Este cubículo esconde-me,
Este cubículo é o meu
esconderijo,
O nosso, mãe,
Quando os teus papagaios desapareciam
no céu,
Tão triste, mãe,
Eu não ter olhos e não
conseguir ver os teus olhos…
Eu não ter mãos e não
poder escrever-te,
Eu não ter mãos e não
poder desenhar-te…
E ver os teus olhos,
Mãe.
E ver os teus olhos nos
olhos do mar.
09-15/11/2023
Sem comentários:
Enviar um comentário