Um pedaço de azul roubou-me a noite
Dentro daquele cubo de
vidro
Uma chuva de estrelas
Uma mãe que dá à luz uma
estrela
Uma estrela que é filha
do porteiro do cubo de vidro,
Os cortinados do pequeno
cubo de vidro
Cortinados que apenas o sono
sabe onde habitam
Uma miúda gira mostra a
perna ao magala
Magala que às vezes se
esconde no cubo de vidro
Quando a espingarda que
transporta começa a disparar lágrimas de sangue,
O magala fuma os últimos
cigarros da noite
Noite que vivia dentro do
pequeno cubo de vidro
Tocavam os sinos
Erguiam-se os mortos das
campas ensonadas onde aprendi a gatinhar
E trazia às vezes o mar
junto ao peito,
Um pedaço de azul
Azul nuvem
Dentro do cubo de vidro
O vidro opaco da miséria
Que o magala trouxera do
ultramar,
O magala escrevia versos
Versos que morriam à
nascença
Poemas que se masturbavam
na alvorada
Na primeira luz da manhã
Da manhã de uma
espingarda.
Alijó, 16/01/2023
Francisco Luís Fontinha
Sem comentários:
Enviar um comentário