Havia no teu corpo crisântemos de
esperança
como madrugadas incolores suspensas no
estendal que esquecemos na varanda
procurávamos nas ruas os candeeiros de
chumbo
para fugirmos à fome da cidade
e sabíamos que eles um dia regressavam
para ajustarem contas connosco,
Depois esquecemos-nos das montanhas de
azoto que nos invadiam
como moscas envenenadas ou como
cadáveres de gesso
pendurados por um fio finíssimo de
sémen na árvore do desespero
conversávamos com Deus e era como se
estivéssemos a falar com uma parede de aço
insensível e distante e fria,
Chovíamos das nuvens emagrecidas em
cidades de areia
e comíamos as imagens que trouxemos de
África
e as pequenas recordações que só
aparecem noite dentro
quando lá fora cessam as músicas do
desassossego
e cá dentro revoltam-se as lágrimas
de tristeza,
Um muro covarde arde docemente na
lareira da idiotice
como aconteceu com as palavras do livro
negro
com dentes de marfim
e cansei-me dos bons costumes
da pontuação e de regras de boa
educação,
Sou um “filho da puta” mal-educado
que vive num País inventado
não sei se sou humano ou em pedra
torneada e ornamentada com flores selvagens
sou um “filho da puta” cansado
de mendigar migalhas e sonhar com
viagens...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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