É DA LUZ O SILÊNCIO DA
ESPADA, QUE SE ESCONDE NO BRAÇO, ENTRA NAS VEIAS
E AO FINAL DO DIA,
REGRESSA AO MAR,
SOBE À MAIS ALTA MONTANHA
DO SONHAR, É DA LUZ, NO TEMPO QUE SE ESCOA NAS TUAS MÃOS, MEU AMOR,
EM TEU OLHAR,
A FLOR.
poesia, pintura & quase engenharia
um dia
saberei perguntar-me
porquê
um dia vou perceber que
tudo isto é apenas um pedaço de silêncio
e tudo isto, começa nas
estrelas, planetas, coisas que ninguém percebe
um dia vou conseguir
deslocar um ponto qualquer do meu corpo, um ponto com um milímetro de diâmetro
para um bilião de metros
de distância
e com ele
irão todos os triliões de
pontos do meu corpo
a isto vou chamar de
transporte
ou teletransporte
um dia será possível
chegar a marte em menos de uma semana
um dia marte é já ali
e a lua
será o alpendre de nossas
casas
um dia o poema será
apenas um olhar
imagina, meu amor,
quantos poemas eu já te escrevi…
um dia será sábado
ao outro dia
passaram um milhão de
anos
um dia
um dia o vento será o
cortinado do teu cabelo
uma esquina de luz
incendeia a noite
escura de ti
ausente de mim
este martírio de viver
de ser
assim
há uma voz de mulher a
escrever na sombra
o poema do adeus
adeus sempre que acorde
uma estrela
nada faz sentido
viver, não faz sentido
dormir muito menos
faz sentido
uma esquina de luz
incendeia a noite
escura de ti
sem uma única janela
nem um olhar teu, um só
como são distantes as
flores do teu cabelo
quando a manhã é apenas
uma folha de silêncio
nos teus lábios
mulher mãe
sem tempo para ser mulher
mulher guerreira
que luta
labuta
e não tem medo da insónia
mãe mulher madrugada
do escuro faz uma enxada
com a lua constrói a
liberdade
mulher mãe
sem medo de ser mulher
sem medo de ser mãe
abalroado, o sítio
destino de um comboio em lágrimas
o fogo alimenta a esfera
de quartzo que se ergue sobre a mesa, do livro, oiço-te inventando sílabas de
mármore depois do sono, aqui é a lua confinada ao mercúrio menino
dormir nos teus seios,
aqui
o mar aconchega a ferida
do final de tarde, a primavera é o cacto, cativeiro orgasmo
oiço-te, invento em ti a
geada, capaz de subir à montanha de um apenas abraço, em te ouvir
o cigarro fuma a sua
primeira lágrima, o sono é o rei da selva, veste-se de leão, senta-se também
sobre a mesa
o verão desce pela janela
do encerado, é sábado
depois da chuva, depois
do silêncio pertencer aos teus seios
do molhado orvalho, que
se veste no teu corpo
e dança sobre a chuva
chovem nos teus seios,
meu amor
caem pedacinhos de mel em
pequenas palavras
chovem nos teus seios, o
silêncio do meus lábios
e a insónia, e as
madrugadas
chovem nos teus seios,
meu amor
as lágrimas choradas, e
as searas
e as pedras lançadas
chovem nos teus seios,
meu amor
o rio e o mar…
e as mãos desejadas