domingo, 10 de dezembro de 2023

Cama de insónia

 

Procuro a tua boca nesta cama de gemidos, procuro a tua mão, neste poço de desejo,

Procuro os teus lábios, procuro o teu cabelo

Nesta cama de silêncios,

Procuro os teus seios com a mão que te escrevo,

Procuro os meus lábios

Com que te beijo.

 

Procuro o poema que deixo no teu corpo, procuro a flor que trazes no peito,

Procuro nesta cama de insónia,

A derradeira paixão de te amar loucamente,

Menina do mar,

Menina com olhos de mar

E lábios de mel.

 

Procuro no teu olhar o livro que desenho no teu sorriso, procuro a primeira lágrima da manhã nas tuas coxas, procuro a noite, procuro o dia

Nas tuas mãos de amendoeira,

Procuro o frio e o calor desta lareira,

Na tua boca,

Que procuro,

Nesta cama de gemidos.

 

Procuro a madrugada.

Procuro o teu púbis nestes lençóis de meninice, nesta cama de palavras, procuro

Esta enxada,

Procuro a lâmina com que corto a solidão, em pedacinhos, em pequenos tormentos das tuas lágrimas,

Procuro

O teu corpo nas minhas mãos.

 

 

10/12/2023

sábado, 9 de dezembro de 2023

Se tu me morres

 

O que é que eu faço

Se tu me morres

O que é que eu faço

Se nada fazer

E perder

Os teus abraços

E como faço

Se perder os teus olhos

O que é que eu faço

Se tu me morres

 

O que é que eu faço

Se não tiver palavras

Se não tiver poemas

Se não tiver nada

Se não tiver dia

Noite

E uma cama

 

O que é que faço

Se não tiver onde dormir

O que é que eu faço

Se tu me morres

E perder os teus lábios

E perder

Se tu me morres

O teu cabelo de mendigo silêncio

 

O que é que eu faço

Se tu me morres

Se tu me morres

O que é que faço

Talvez não o faça

Fazer

Fazendo

Se tu me morres

Não ter tempo para escrever

 

O que é que eu faço

Meu Deus

O que é que eu faço

Se tu me morres

E eu deixe de tez paz

E eu deixe de ter amor

O que é que eu faço

Se tu me morres

E me morre também esta flor

 

 

09/12/2023

Espetais-me asas

 

Espetais-me asas

De pássaros em brasa

De pássaros em cio

Espetais-me asas de papelão

De pássaros em solidão

Em brasa

Estas asas que me espetam

E fazem do meu corpo

Um pequeno vómito

 

Espetais-me asas

Dos tantos pássaros do meu viver

Da minha vida emparelhada, na minha vida, sem açúcar

Espetais-me asas

Em brasa

Neste corpo despido para os teus olhos

De pássaros envenenados

Espetais-me asas

De pássaros em brasa

Na brasa da minha mão

 

Espetais-me asas

De pássaros

E de nada

Em brasa

As asas que me espetam

Espetais-me asas

Em mim

No meu peito

Espetais-me asas

Em teu cabelo

Em teu olhar

 

Espetais-me asas

Margaridas em brasa

E em brasa

Aquela flor

Que me espetam

Que me doi

Quando acorda a manhã

Espetais-me asas

Brasas

Asas de pássaro

Espetadas

Em mim

 

Espetais-me asas

De pássaros em masturbação

Com a mão em brasa

As asas

Que me espetam no coração

 

Espetais-me asas

Madrugadas

De pássaros sem dormir

Asas loucas

Loucas asas

Em brasa

No silêncio do meu olhar

 

No silêncio do meu sorrir

 

Espetais-me asas

Muitas asas do meu anoitecer

Espetais-me asas

Asas de amar

Asas

Em brasa

Nas asas de morrer

 

Espetais-me asas

Asas sem eu saber

Espetais-me asas nas palavras de escrever

Em brasa

Este corpo com asas

As asas

Que me espetais

 

Espetais-me asas

Muitas asas

De pássaros com olhos em turbilhão

Espetais.me asas

Muitas asas

Em brasa

Em tua mão

 

 

09/12/2023

O medo

 

Não tenhas medo de dormir nos meus olhos

Não tenhas medo do meu mar

Nem medo da Primavera

Não tenhas medo do meu olhar

Quando te olha nas mãos desta tela

 

Não tenhas medo de amar

Livremente como uma gaivota

Não tenhas medo de sonhar

Nem medo de abraçar

O meu peito em revolta

 

Não tenhas medo da minha mão

Porque ela apenas sabe escrever e sabe desenhar

Não tenhas medo do dia

Nem medo do mar

Do meu mar

Em poesia

 

Não tenhas medo de acordar

Mesmo que o dia esteja triste e sonolento

Não tenhas medo das minhas palavras

Nem medo do vento

Nem medo das minhas madrugadas

 

 

09/12/2023

Há tanta coisa, meu amor

 

Há tanta coisa para dizer, dizer tanta coisa, neste labirinto de palavras, dentro desta selva inanimada, quase só, quase nada,

Tantas palavras, para dizer, enquanto não regressam as madrugadas, enquanto estas palavras, se suicidam nos teus olhos.

 

Há tanta coisa para dizer, dizer tanta coisa, neste labirinto de insónia, que a noite aprisiona, e lança no mar, tanta coisa para dizer, dizer no eterno amar, dentro deste labirinto, dizer,

Que pertences a este luar.

 

Há tanta coisa para dizer, dizer tanta coisa, neste labirinto de te desejar, ó mar do meu mar…

Dizer tanta coisa, tanta coisa em te amar.

 

Há tanta coisa para dizer, dizer tanta coisa, neste labirinto de te beijar, dizer coisas, não dizer nada, há tanta coisa para dizer, e tanta coisa para escrever, dizer tanta coisa, no meu secreto mar.

Há tanta coisa para dizer, dizer te beijar, há tanta coisa, meu amor, há tanta coisa para te abraçar.

 

 

09/12/2023

Os meus poemas

 

Não gostas dos meus poemas

Ignoras e detestas

Os meus poemas

E o meu rezar

Não gostas dos meus poemas

Nem gostas do meu mar

 

Não gostas dos meus poemas

Nem gostas do meu luar

Ignoras os meus poemas

E detestas a minha poesia

Não gostas dos meus poemas

Nem gostas do meu dia

 

 

09/12/2023

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Neblina cinzenta

 

Esqueço-me nesta esplanada

De ninguém

Esqueço-me nesta neblina cinzenta

Com estes muros

Com tantas portas

Que me apetece

Esquecer

 

Esqueço-me dentro deste livro

E cada vez mais gosto do Botto

Tem uma forma bela de escrever

O amor

E a dor

Do amor

 

Com dor

Esqueço-me que também tenho uma noite

Como todas as outras pessoas

Esqueço-me que também os pássaros são tristes

Quando desce a noite

Sobre o poema de Botto

 

Esqueço-me que sou

Esquecer o que tenho

Que esqueço o que escrevo

E que escrevo não sendo

 

O puro amor de te amar

Esquecer

Que dentro do mar

Esqueço os barcos de brincar

E esqueço as flores de escrever

 

Esqueço-me do dia pendurado na algibeira

Esqueço-me no dia

Quando me sento e pego a tua mão

Sentado junto à ribeira

Da poesia

E da alegria

 

Esqueço-me de mim e que também tenho coração

Que também tenho madrugadas

Algumas envenenadas

Outras

Esquecidas

Miseras palavras

 

Esqueço-me de tudo e de nada

Quando o nada parece tudo

De um pouco

Ao céu

O teu sorriso

Esqueço-me da geada

Quando percebo que esqueci

Dentro de ti

A minha madrugada

 

 

08/12/2023