sábado, 7 de dezembro de 2019

Não sei


Não sei!
Não sei o que é adormecer,
Sorrir,
Sonhar,
Ou simplesmente viver.
Porque tu existes, e vais partir,
O Sol acordar,
Não sei que sei que chorei!
Ninguém quer saber,
Nem importa o que vamos fazer,
Se faz Sol ou está a chover,
Ou corremos sem correr…
És flor adormecida,
Muito bela e querida…,
Manhã submersa esquecida
Á procura da vida.
Pétala de ternura
Eterna brancura,
Olhar cansado com bravura,
Que se despedaça de grande altura…
Não sei!
Não sei o que é voar,
Viver,
O que são electrões,
Pensamentos metalúrgicos ao acordar,
Treliças que quero esquecer.
Fundem-se protões,
E de tanto te olhar…, me cansei!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Para publicação

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ilusões de Amor

Francisco Luís Fontinha

Lisboa, 87/88
Alijó / S. Pedro do Sul – Carvalhais, 89
Parte I
Pensamentos de um homem morto
 1
Hoje pude olhar o nascer do sol!
Seus raios são luz que iluminam a esperança,
Não de viver, mas de sonhar.
Tudo o que me rodeia, acorda de um sonho adormecido,
A Primavera finalmente encontrou o renascer
De um amor incompreendido.
Tenho medo…, não de morrer, mas… de sonhar!
2
Estou só e todo o silêncio é pouco.
Entre estas paredes de quem sou prisioneiro,
Recordo-me dos mais loucos e distantes pensamentos,
As pedras que me escutam, olham o transformar
Da minha sombra na escuridão, e que é testemunha
Do meu processo de destruição…
O insignificante a que pertence o meu pensamento,
De nada compreende o meu passado…
3
Em cada segundo de silêncio, o meu pobre corpo
Descansa entre o sonho adormecido,
E todo o meu sofrimento é constante,
Vertical, horizontal, é dor,
E tu nunca compreendeste o que me espera,
Eles dizem-me que o fim está próximo,
Não da morte,
Mas de tudo aquilo que não compreendo…
4
As palavras,
Gritam-me constantemente o silêncio da morte.
A alegria que existe dentro de mim
Não é real, é apenas uma vontade sem vontade
De viver um futuro denegrido, hipotecado ao diabo.
A tua sombra faz com que o meu caminho
Seja projectado num passado distante da minha verdade,
E o teu futuro encalha no meu presente.
Ao longe, olho a tua sombra, e o teu sorriso é lindo!
5
Adeus liberdade solitária!
Tu compreendes-me?
É essa a razão que faz o meu destino
Parecer e ser incompreendido.
Há momentos e não momentos que imagino a separação,
E outros, fico só e o meu corpo adormece.
Em breve vou morrer…, e então serei feliz!
6
Tudo parece impossível!
Viver, sonhar e amar…
Até adormecer é impossível.
Serei diferente?
Olho na luz que me ilumina, e duvido da sua presença,
E da minha existência.
Não compreendo a verdade,
E permaneço rebelde além da destruição…, fico contente.
7
A alma que chora no meu infinito,
Faz de mim solitário,
E o meu coração esconde-se no desconhecido.
No presente, não penso o futuro,
E..., momentaneamente esqueço o passado,
Mas tudo parece impossível…
Não me preocupo quem sou,
E gostava de saber quem serei mais tarde…

Parte II
O acordar de uma mulher
1
Vou caminhando rua acima
Fugindo do meu ideal,
Ao longe recordo o mar,
E compreendo não ser eu real.

Seu olhar olha-me constantemente
E recordo minha sombra,
E um dia…, se voltares a ser minha amante,
Certamente não serei feliz como a pomba.

Maldita escuridão!
Serei eu um sonhador?
E pergunto ao meu coração
A razão de tanta dor…
2
Estou perdido
Numa canção onde posso recordar-te,
E não imaginas o que tenho sofrido
Não ser eu capaz de amar-te.

Gostava de dizer-te alguma coisa…
E por minha culpa
O sol no horizonte pousa,
E transporta-me para tão grande luta.

Conquistei o teu sofrimento
Numa noite em Setembro,
Com os teus cabelos soltos no vento,
Que já esqueci e não me lembro.
3
As folhas caídas
Repousam eternamente neste lugar,
Olho ao longe, as árvores despidas
À espera de um novo luar.
Sozinho e triste
Caminho sobre casas ruídas,
Mas…, o meu amor não resiste
Às folhas caídas.
4
Alem recordo o teu rosto
Repartido pelos movimentos vividos,
Brilhante como Sol-Posto
Imagino horizontes denegridos…
Alem ouço a tua voz
Que me tira as forças para continuar;
E alguém chama por nós
Na razão de amar.
Alem recordo o teu sorriso
Tal como se tratasse de uma estrela cintilante,
Alguém perde o juízo,
E eu, eternamente,
Adormeço no mar…
5
As flores acordam ao amanhecer
Caminhando em distantes mágoas,
Em pensamentos que me fazem reviver
A pureza de suas águas.

Recordarei sempre o teu olhar
Tal como o teu corpo,
Sabendo que não te posso amar
Porque brevemente estarei morto.

Sofro por tua causa
E desconheço se vou resistir;
Em mim apodera-se uma pausa
E logo me leva a partir.
6
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!
A noite, transparente, parece reconhecer
Sombras encalhadas na ruela,
E ao fundo, a luz cansada de acender,
Apresenta-me uma mulher muito bela.
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!
Olhei o meu amor
Escondido na cabana,
Escondia sua voz no tambor
E iluminava objectos de porcelana.
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!
O caos do meu pensamento
Transporta-me para o final,
E todo o meu sofrimento
Esconde-se como um animal.
As estrelas deixaram de brilhar
E o mar fica distante!



Para publicação

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Matemática


Se eu juntar o Sol com a geada,
E subtrair a madrugada,
Elevar ao quadrado o luar…,
Fico com nada,
E tu, talvez fiques com o mar!
Calculando a primitiva do teu olhar
Juntamente com a raiz quadrada,
Eu continuo a ficar com nada,
E tu, novamente com o mar!

Assim não dá. 

Diferenciando o silêncio do teu sorriso
E ao mesmo tempo,
Dividir o meu cansaço pela falta de juízo,
Obtenho a probabilidade do vento…

Assim não dá.

Se juntar o Sol com a geada,
Adicionando o mínimo múltiplo comum da madrugada,
Integrando o luar…,
Fico com três folhas de papel perdidas na calçada,
E tu, ficas com o mar!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Poema a publicar em livro

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

O meu funeral


Não posso estar presente
No dia do meu funeral.
Lágrimas derramadas por muita gente,
Rancores de raiva me querem tão mal.

Tiveram o cuidado
Em vestir-me a rigor,
Fato e gravata, no caixão deitado
Multidão que chora presente dor.

Porque choram pergunto eu desanimado!
E só depois de ter morrido
Compreendi a razão de ser odiado...
Sinto-me triste por ter nascido!

E estou feliz deitado
Neste caixão em madeira...

A presença do vigário
Nunca me agradou,
Fizeram tudo ao contrário
Daquilo que o meu pensamento planeou.

Não me importo. Irei contrariado...

Poucas horas deitado
E já me sinto distante,
-Porra. Sinto-me cansado
De olhar tão triste gente.

Estou pronto para embarcar.
No meu quarto depositado
Ouço alguém cantar
A canção do abandonado.

Choram as mulheres lágrimas na escuridão
E feliz, vejo crianças a brincar,
Brincadeiras à volta do meu caixão
Antes do cangalheiro as portas fechar.

Começa o maldito padre uma “merda” qualquer,
E eu que nem padre queria.

Fecha-se o maldito caixão
E o meu olhar perde-se no meu corpo cansado,
Gritam então..., meu querido filho! Filho da minha alma meu coração...
E tudo fica calado.

Missa não tive, missa não.
O maldito padre apressado
Reboca o meu pobre caixão,
E eu a rir porque vou deitado.

Lançar as cordas. Corpo ao fundo. Finalmente...
A terra cobre-me como sempre tinha pensado,
Terra que tudo mastiga, terra que engole gente.
Assim descansa o meu corpo cansado.

Mais tarde uma lápide foi colocada
Em memória de um tal Luís Fontinha, data de nascimento...
Nascido em Janeiro e Luanda apaixonada
Meu filho querido tristeza do meu sofrimento.

E a lápide foi apagada.
Um anjo na escuridão
Novas palavras escreveu pela calada,
Aqui Jaz Luís Fontinha, aqui apodreces maldito “cabrão”.


Sete anos mais tarde.

As letras no tempo foram apagadas
Tal como uma folha de papel dourada.

Outro no meu lugar foi enterrado
Juntamente com os restos que sobravam de mim,
E eu sem culpa alguma compartilhei o mesmo valado
Que mais tarde alguém fez um jardim...




Francisco Luís Fontinha
Algures em Belém/Lisboa – 87/88

O sol


Não o sei.
Foram pedras da calçada que arranquei.
Foram lágrimas que chorei.
Não o sei.
Esta terra que semeei,
E depois me cansei,
E depois me sentei,
Não. Não o sei.


Não o sei.
Porque morrem, aos poucos, as palavras que plantei,
Na folha de papel que rasguei.

Não.
Não o sei.

Não o sei.
Porque brotam lágrimas esta lareira que amei.
Esta fogueira que incendiei,
Na madrugada que pintei.


Não.
Não o sei.


Não o sei.
Porque sinto os combóis que nunca sonhei.
Não o sei,
Porque brincam meninos na seara que pisei…


Mas uma coisa eu sei.

Que o Sol que bilha, não fui eu que o pintei.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
03/12/2019

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A casa


Sinto-te nesta casa fria e escura.

Neste casebre abandonado,

Sinto-te nas paredes cansadas desta espelunca,

Na sombra de um qualquer coitado; eu.

Sinto-te em perfeita brancura,

Das palavras que escrevo e pronuncio…

Que nunca,

Vou desenhar uma gaivota em cio.

 

Sinto-te como se fosses uma pomba.

Sinto-te como se fosses uma bomba,

Esquecida no mar,

Esquecida de rebentar.

 

Sinto-te e não te vejo.

Pareces invisível neste labirinto.

Pareço o Tejo.

Voando baixinho, quando não minto.

 

Sinto.

Sinto tudo isto enquanto não consigo adormecer.

Sinto a calçada chorar.

Sinto o meu corpo sofrer…

Com medo de morrer.

Com medo de acordar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

02/12/2019

domingo, 1 de dezembro de 2019

O labirinto do sono


Habito neste labirinto de lata.

Desta pobre sanzala abandonada.

Habito neste corpo de ossos,

Alicerçado às muralhas dessa pobre calçada.

Habito neste corpo de chapa,

Cansado da tristeza.

Vejo-me no espelho da beleza…

E apenas observo sombras, linhas rectas envergonhadas.

Habito neste poeirento cansaço,

Nas tardes infinitas,

Que os meus lábios vomitam…

Palavras malvadas.

Palavras bonitas.

Habito no teu cabelo desgovernado pela doença,

Entre gemidos e demência,

Habito na tua boca engasgada na madrugada,

Quando o silêncio não é nada,

Quando a vergonha,

Envenenada,

Dorme na tua mão calcinada.

Habito, meu amor, neste palácio assombrado,

Dentro de livros com personagens moribundas,

Entre xisto e calçado,

Nas montanhas fundas.

Habito.

Habito nos duzentos e seis ossos Outono,

Quando as árvores se despem, e o teu corpo, longe do mar,

Enaltece a maré de chorar.

Habito sem parar,

Neste labirinto do sono.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

01/12/2019