sábado, 9 de novembro de 2019

Medo


Tenho medo, mãe,

Do vento que se alicerça nas tuas mãos e traz a saudade.

Tenho medo da cidade,

Dos fantasmas da noite,

Que vivem na cidade.

Tenho medo, mãe,

Das palavras que escrevo,

Das que não escrevo,

E das que devia escrever.

Tenho medo dos pontos de interrogação,

Dos travessões,

E do ponto final, parágrafo.

Tenho medo, mãe,

Do sono,

Da noite,

E dos sonhos!

Tanto medo, minha mãe…!

Medo.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

09/11/2019

domingo, 3 de novembro de 2019

O autocarro


Simplesmente me ausento

Da leviandade dos dias tristes.

Finalmente regressa a noite,

E com ela,

Todas as palavras da aldeia também regressam.

Uma ruela sem saída,

Uma porta entreaberta desenhada nos pingos da chuva,

Um sombreiro em solidão,

Caminha pela ruela sem saída.

O autocarro não parou hoje na paragem;

Aliás… o autocarro hoje não acordou.

Talvez amanhã me venha buscar para o infinito…

Amor,

Amar.

Simplesmente me ausento

Da leviandade dos dias tristes.

A saudade,

Sempre presente nestas quatro paredes de inferno,

Quase que estamos no Inverno,

E mesmo assim,

Hoje,

O autocarro não apareceu;

Esqueceu-se de mim,

E das minhas palavras.

Penso…

Amanhã o que será de almoço,

Mas não me preocupa que o autocarro, hoje, tenha adormecido.

Simplesmente me ausento das sombras desta casa,

Como se existisse um relógio para o dia e outro para a noite…

A saudade,

Suspensa na claridade dos livros empilhados até ao tecto,

Esperam por mim,

No jardim,

Sentados no banco em marfim.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

03/11/2019