sábado, 6 de janeiro de 2018

Esqueletos de xisto


Somos canções de espuma.

Somos corações de aço em revolta,

Somos o tecto da sonolência repartido pelo perfume da tarde,

Somos a esperança,

Somos os socalcos embalsamados junto ao rio…

Somos canções de luta,

Cansada noite entre sombras e cabeças de vidro,

As ruas, os edifícios mórbidos dos condomínios desassossegados,

Somos palavras,

Poemas, somos livros desajeitados,

Nas salinas do amanhecer,

Somos Pátria,

Somos sonâmbulos enfeitados de espuma…

Nas canções de espuma.

Somos a liberdade,

Somos os jardins abraçados à liberdade,

Somos desempregados, homens, mulheres e crianças,

No circo da aldeia,

Somos a bandeira,

Somos a esplanada junto ao mar,

Somos a noite,

Antes de acordar.

Somos equações, metáforas e limões…

Somos cabrões,

Árvores da inocência,

Somos o Inverno,

Nas lareiras do Inferno,

Somos o vento,

A geada e o pensamento,

Somos tudo o que quiserem…

Só não somos esqueletos de xisto.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 6 de Janeiro de 2018