sábado, 29 de abril de 2017

Sombra de viver o infinito sorriso do vento


Em direcção à morte

O vento se despede da solidão

Sem perceber que a manhã se suicidou contra os rochedos da insónia

A noite chegou

Trazia na algibeira o Universo remendado pelos papéis da agonia…

E um homem espera desesperadamente pelo seu amante,

Escrevo-te,

Junto ao mar

Os petroleiros do desejo em soluços

Como as estrelas pregadas no Céu nocturno das fotografias prateadas,

Escrevo-te,

Espero pela alegria da distância abrupta da imensidão do tempo,

Espero pela ausência do teu peito

Fundeado num qualquer porto esquecido numa qualquer cidade…

Em direcção à morte

Os alicerces do medo entre pergaminhos e livros de veludo

Correndo a calçada que abraça o rio,

A areia do teu corpo semeado nas mãos do teu rosto,

E não sabias que do fogo da inocência

Um suspiro se ergue até ao pôr-do-sol,

Desisto,

Sento-me no jardim com vista para a tristeza,

E um copo de uísque se despede de ti,

Até logo,

E escrevo-te nesta angustia de viver

No sonho do veleiro abandonado,

Fujo com o barco,

Deixo-te,

Abandono-te…

Sem perceber o desejo do meu corpo

Nos parêntesis da memória,

Escrevo-te,

Junto ao mar…

E escondo-me da tua sombra.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Abril de 2017