sábado, 10 de setembro de 2016

O medo dos teus olhos


Tenho medo dos teus olhos

Quando a noite inventa tempestades nos teus lábios,

Tenho medo do silêncio,

Medo do luar…

Tenho medo de amar…

Quando próximo do teu rio

Um tubarão espera por ti,

Tenho medo das tuas mãos

Quando os socalcos sobem à aldeia

E o teu corpo se transforma em perfume…

Tenho medo do teu cabelo

Entrelaçado no xisto da manhã

E um fino fio de oiro…

Vive na tua boca,

O beijo acorda do sonâmbulo relógio de prata,

Temos um horário moribundo,

Caquéctico

E sujo…

No pulso da solidão,

Tenho medo da cidade

Que habita nos teus seios

E expulsa todos os corações apaixonados…

Tenho medo dos bichos de papel

Que invadem os teus braços

E lançam sobre o oceano o medo…

O medo de ter medo

Dos teus olhos

Das tuas lágrimas,

Tenho medo da tua sombra

Incandescente

E triste

Nos jardins imaginários…

Tenho medo dos teus olhos

Que me alimentam a insónia…

Tenho medo dos amigos

Que inventam amigos e de amigos nada têm…

Tenho medo das pedras

Dos triciclos em pedra

E das madrugadas sem dormir…

Tenho medo da partida…

E de não regressar mais a mim

O medo dos teus olhos.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de Setembro de 2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A tempestade da saudade


Os cabelos negros

Poisavam na tempestade da saudade,

Uma rocha adormecia na tua mão

Vinda do longínquo oceano…

Insaciável, indiferente à liberdade

Das cidades ardidas,

Os cabelos negros…

Em réstias de silêncio

Camuflados pela madrugada das sonâmbulas palavras,

Um cigarro abandonado,

Triste como eu…

Sentado nos teus lábios de chocolate,

Ele caminha e sente

O perfume da solidão

E os candeeiros da insónia…

Mas a liberdade… nunca morrerá,

Nem desaparece…

Dos finais de tarde junto ao rio,

Os cabelos negros

Poisavam na tempestade da saudade…

E me diziam que amanhã

Nascerá um poema no teu corpo,

Em revolta,

Na lâmina fina e húmida da felicidade…

Ele morrerá,

Ele morrerá acorrentado ao estrado do sono…

E só acordará…

Nas lágrimas dos cabelos negros.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de Setembro de 2016