sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sonâmbulo embriagado


Pego nas cartas que me escreveste,

Algumas, sem nexo, sem anexo…

Pego nas palavras que nunca tiveste a coragem de lapidar nos meus lábios,

E coloco-as na tela da saudade,

Invento nos teus beijos a poesia do sonâmbulo embriagado,

Quando o vento o faz tropeçar na calçada,

E acorda debaixo da sombra nocturna do Adeus…

O mendigo apavorado,

Apaixonado desde criança,

Que as palavras das tuas cartas…

Transformaram em veneno amargurado,

Nas mãos do soldado amordaçado.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 1 de Julho de 2016

quarta-feira, 29 de junho de 2016

O travestido cinema de Bairro


Entre as linhas do silêncio

As ânforas madrugadas sem mim

O óbvio segredo das serpentes de granito

Antes do regresso do pôr-do-sol…

A limalha lágrima

Sufocando o rosto da Princesa

Os limites da equação do desespero

Voando sobre os telhados envidraçados

Das mulheres desejadas

O beijo feitiço

Os lábios denegridos da solidão dos dias embriagados

Que apenas eu consigo observar numa cidade sem nome…

Entre carris de esperma

A locomotiva da solidão

Descendo a montanha

Os apitos da loucura

Nos lençóis esquecidos numa qualquer cama

Desertas ruas envenenadas

À porta do cinema…

Simplifico-me

Travisto-me

E para nada…

Não passo de um sonâmbulo

Filho da alvorada.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 29 de Junho de 2016

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Desencontros de quando te encontro


Sempre que te encontro

Desencontro-me

Ausento-me da sombra

Que cobre a tua boca

E alicerçam-se as palavras à madrugada

Sempre que te encontro

Desencontro-me

Como um relógio sonâmbulo nas mãos de uma aranha…

O segredo da partida

Levando as coisas supérfluas da vida

Que só tu sabes saborear…

Sempre que te encontro… desencontro-me

Neste labirinto de xisto

Onde habito

Onde escrevo

Todos os desencontros

De quando te encontro…

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 27 de Junho de 2016

domingo, 26 de junho de 2016

pequenas coisas


saltar

inventar a escuridão das palavras de brincar

sofrer

morrer

nas sílabas do silêncio desejado

sem dor

com o medo de acordar

e saber que no mar

um corpo magoado

pernoita na maré

saltar

e não encontrar a âncora da tristeza

sempre que os dias dormem

e as manhãs sentem a pobreza…

do riso

do esquecimento…

sempre

saltar

para o abismo de morrer…

quando o olhar se despede do sofrimento

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 26 de Junho de 2016